POR QUE ESCREVO?
Eu escrevo com esperança de que o texto faça diferença. Sei que é difícil, que a maioria das pessoas não está muito disposta a lutar para alterar nada. Nas minhas várias facetas, uma parece bonita, é generosa, e a outra, que parece feia, é impaciente e quer resultados. A simplicidade só é alcançada com muita persistência. Tentei um texto que atingisse do homem mais simples ao erudito. A palavra dita ou escrita toma corpo, o dito, esvai-se com o tempo, mas o que está escrito permanece.
A lágrima que não caiu e as palavras que não foram ditas têm o peso da solidão que não se pode suportar, por isto, tenta-se ignora-la. Ninguém se parece com ninguém. É-se parte diferente de um todo, que incompleta, se completa no todo. Esta é a solidão que se carrega, uma incompletude que inquieta. Cada ser humano ou grupo precisa deixar de ter uma mentalidade egoísta, egocêntrica e pensar no bem coletivo, onde todos tenham seus direitos e a necessidade de uns suscite a fraternidade de outros.
Na verdade, desde muito cedo, eu precisava escrever. Não foi uma questão de escolha. O meu silêncio era tão gritante que se transformou em letras. Talvez as minhas palavras consigam carregar a minha mensagem ou transcender uma mensagem além do que está escrito. Quem sabe sua função esteja além da minha intenção primária? Se assim o for, que se faça.
O leitor, depois do autor do texto, é o seu novo dono e, como intérprete, muitas vezes, é solidário com o autor, como que dialoga com ele, noutras, reinventa o texto, criando um ruído dialético, e ainda existe o leitor que, com sua altivez e generosidade, dá-lhe um sentido maior. Todo autor tem que ter consciência desse desprendimento do texto. Que sua cria é para o mundo, não para ele mesmo. Visto isso, quando escrevo, o texto é meu, quando você o lê, ele é seu. Que seja tão bom para você lê-lo quanto foi necessário para eu escrevê-lo.
CRUZ, Ana da. Por que escrevo? Recanto das Letras, 2008. Disponível em URL: [http://recantodasletras.net/prosapoetica/1255605] 30/10/2008.
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