SEM ASAS PARA VOAR
Neste arame onde penduro minhas horas a engrenagem do tempo avesso do dia/acena livre no bordado dos ponteiros que rodam e rodam e rodam contrariando cada segundo da vida enquanto o nervo acende na luminosidadedo toque do cirurgião, e depois... depois?! Depois o quê?! A morte é certa e sem pudor ou postura de lorde inglês. Enegrecida, macilenta e triste?! Que tristeza além da vida que sucumbe calada pode lamber meus ossos, meus pés e soprar sonhos? Não há nada! Apenas o silenciar deste tum tum tum ininterrupto preso nesta redoma sem asas para voar. O mito cede lugar ao bem sucedido vazio – sem asas para voar!? Onde as deixei?! Minhas asas de borboleta/fada/anjo ou diabo?! Talvez estejam contigo presas em suas costas, sendo elas, as minhas voadeiras/voantes/viajantes, são suas também. Eu me vejo no espelho de cristal onde giram as cores esfareladas guirlandas penduradas no pescoço esquálido que grita e regurgita uma canção dolente entristecida e chorosa enquanto rouba as letras do poema que eu te escrevi.


www.luciahlopez.prosaeverso.net