SER MINEIRO
Ser mineiro não é só dizer uai, trem bão, etc e tal,
é ter todo um jeito especial e diferenciado de ser.
É não se meter em cumbuca alheia;
é não dar um passo maior que as pernas;
é não dar ponto sem nó;
é confiar, desconfiando;
é não mostrar o que sabe;
é falar menos e escutar mais;
é chegar antes da hora
para não perder o trem;
é não andar no escuro
para não encontrar o que não se deve.
Mineiro não gosta de conversa mole de enrolador,
nem de conversa fiada de quem diz o que não deve.
Mineiro gosta de segredo.
Não gosta de dizer o que faz, nem o que vai fazer,
deixa para revelar quando já está pronto.
Ser mineiro é passar por bobo e ser inteligente.
É se vestir com simplicidade, sendo fazendeiro;
é reclamar dos preços, sendo banqueiro;
é dar desconto para ganhar o freguês.
Mineiro não olha diretamente, tem educação,
espia, fingindo que não presta atenção;
não é de vingança, mas pode esperar o troco;
não estica conversa com estranhos,
mas recebe os amigos como se fossem reis;
não troca um pássaro na mão por dois voando,
pois só arrisca quando tem certeza.
Ser mineiro é ter sabedoria, simplicidade, modéstia,
solidariedade, coragem e bravura.
É fazer de um fracasso o princípio de uma vitória,
e da vitória, a humildade do não foi nada demais.
O mineiro, se vive no campo,
gosta de ouvir os sons da natureza:
do movimento da água nos rios, do ar nos ventos
e olhar o céu para sentir as mudanças do tempo:
saber se vai dar sol ou chover, fazer calor ou frio;
gosta também de ouvir o cantar dos pássaros,
o latido do seu cachorro amigo,
o mugir do gado leiteiro,
o relincho do forte e nobre cavalo ...
e, vez em quando, escutar as notícias da cidade.
Mineiro que vive na cidade,
não deixa de lado o seu jeito interior,
leva o valor do campo junto consigo;
se estiver em outro país,
entre as saudades maiores
estão as belas montanhas de Minas Gerais,
com que interage desde cedo.
Segundo os que não são de Minas,
o motivo por que o mineiro é desconfiado,
é que, crescendo entre montanhas,
anda atento pelos caminhos,
sem saber o que se esconde
atrás de cada uma delas,
já que cada qual tem seu mistério,
não há duas que se igualem.
Fato é que, ao sair de seus domínios,
torna-se difícil enganar o mineiro
que enxerga atrás das montanhas outras,
entrelinhas das palavras.
Devagar e sempre,
o mineiro chega aonde quer.
Ser mineiro é ser conservador
no que precisa ser conservado.
No amor-casal, dois é bom, três é demais.
Ser Mineiro é ser religioso.
Mineiro não se sente só aonde quer que vá,
pois sente que a mão de Deus o protege.
Ser mineiro também é ser inovador
no que precisa ser inovado.
É gostar de saber mais para contar seus causos;
é admirar o belo, a arte, a vida;
é amar a liberdade de ir, de vir, de pensar, de ser;
é ser poeta e gostar de fazer política
para não perder o idealismo de mudar as coisas.
Ser mineiro é ser gente como a gente: eu e você,
que, entre trabalho e suor, com lágrimas e sorrisos,
construímos a história dessa nossa Minas Gerais,
as minas de ouro, diamante, pedras preciosas...
riquezas infinitas minerais e pessoais,
que podem ser encontradas nos subsolos
ou caminhando pelas ruas das nossas cidades.
* Neste poema, há uso de ditados populares de domínio público.
* Obra Destaque Literário 2008 - Concurso Internacional Letras Premiadas, Alpas XXI.
CRUZ, Ana da. Ser Mineiro. Recanto das Letras, 2008. Disponível em URL: [http://recantodasletras.net/prosapoetica/1250109] 27/10/08.
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