PERFEIÇÃO DO AMOR
Eu não sabia que atras de um sorriso doce habitava um fantasma.
Também não sabia que a nossa união seria um estágio para a lou-
cura.
Eu vestida com minha armadura de ingênuidade e você fantasiado
de bom moço.
Perfeito casal que não fala o mesmo dialeto, que compartilham far-
pas e mesmo assim conservam o amor.
Sentimentos irreais como todas as verdades latentes na insatisfa-
ção pessoal.
Dois velhos estranhos convivendo no mesmo espaço, em espaço
oposto.
União perfeita, perfeita ciclonia da ausência e abandono de almas
que se anulam e camuflam para sobreviver.
Vivem vivendo o vazio, usam a máscara da compreensão enquanto
nada mascaram porque a verdade rasga a realidade.
União perfeita aonde não existem vítima e algoz apenas escravos da
vaidade.
Caminham lado a lado maldizendo a vida, praguejando os sentimen-
tos, versejando o amor iludindo os tolos.
União perfeita do fraco com o incapaz, do insando com o demente.
Um homem e uma mulher réfens de si mesmos, acorrentados numa
loucura que classificam de amor.
De mãos dadas unidos numa enfadonha escolha, uma co-depência
doentia.
Ele com a necessidade incontestável de ser Deus, ela a pecadora.
Um fardo, uma existência entrelaçada pelo flagelo de dois seres
que perderam sua essência e o sentido de viver.
Não ha acordes dos anjos os abençoando, somente anjos e demo-
nios duelando o poder sobre suas almas doentes.
Se mutilam dia após dia, embriagam se nas agressões verbais e se
amparam mutualmente no vale das sombras.
Ambos possuem a face marcada, o estigma do fracasso amoroso,
mas se agarram um ao outro alimentando a infelicidade.
Sem a luz da esperança envelhecem curvados pelos dissabores dos
sonhos frustrados e de uma sobrevida apática que apenas atraves-
sou o mundo sem deixar pegadas.
CAMOMILLA HASSAN