PERFEIÇÃO DO AMOR

Eu não sabia que atras de um sorriso doce habitava um fantasma.

Também não sabia que a nossa união seria um estágio para a lou-

cura.

Eu vestida com minha armadura de ingênuidade e você fantasiado

de bom moço.

Perfeito casal que não fala o mesmo dialeto, que compartilham far-

pas e mesmo assim conservam o amor.

Sentimentos irreais como todas as verdades latentes na insatisfa-

ção pessoal.

Dois velhos estranhos convivendo no mesmo espaço, em espaço

oposto.

União perfeita, perfeita ciclonia da ausência e abandono de almas

que se anulam e camuflam para sobreviver.

Vivem vivendo o vazio, usam a máscara da compreensão enquanto

nada mascaram porque a verdade rasga a realidade.

União perfeita aonde não existem vítima e algoz apenas escravos da

vaidade.

Caminham lado a lado maldizendo a vida, praguejando os sentimen-

tos, versejando o amor iludindo os tolos.

União perfeita do fraco com o incapaz, do insando com o demente.

Um homem e uma mulher réfens de si mesmos, acorrentados numa

loucura que classificam de amor.

De mãos dadas unidos numa enfadonha escolha, uma co-depência

doentia.

Ele com a necessidade incontestável de ser Deus, ela a pecadora.

Um fardo, uma existência entrelaçada pelo flagelo de dois seres

que perderam sua essência e o sentido de viver.

Não ha acordes dos anjos os abençoando, somente anjos e demo-

nios duelando o poder sobre suas almas doentes.

Se mutilam dia após dia, embriagam se nas agressões verbais e se

amparam mutualmente no vale das sombras.

Ambos possuem a face marcada, o estigma do fracasso amoroso,

mas se agarram um ao outro alimentando a infelicidade.

Sem a luz da esperança envelhecem curvados pelos dissabores dos

sonhos frustrados e de uma sobrevida apática que apenas atraves-

sou o mundo sem deixar pegadas.

CAMOMILLA HASSAN

CAMOMILLA HASSAN
Enviado por CAMOMILLA HASSAN em 25/10/2008
Reeditado em 27/10/2008
Código do texto: T1248163
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