A CIDADE JÁ ACORDOU
A Vasta imensidão, lugares extensos no espaço
intensas sombras no vazio,
ruas e ruelas
guetos e becos,
nação e facção.
as igrejas ressoam seus sinos, sumiram as letras dos hinos
as madames e seus tecidos finos,
as mãos postas nos templos, os individuos e seus exemplos
transeuntes, andarilhos, maltrapilhos e engravatados
o mercado com seus enlatados,
a arquitetura dos encaixotados,
a cortina de lona, a roupa cafona
as praças, avenidas e jardins
gays, lesbicas e afins.
os seguranças dos patrões, as cores dos casarões
a destreza dos ladrões.
a fabrica cuspindo fumaça, bebados exalando cachaça,
cada um com sua carapaça.
a pedra, o pó, o fumo e as drogas da farmacia
a cama macia, o papelão sem cabeceira
as crianças e suas coceiras.
a luz dos postes, a escuridão dos sem terra
a policia atira e erra
mais uma bala perdida, juventude ferida
a classe sofrida.
respirar, mover, criar e enlouquecer
tentar esquecer do sabor do nascer
querer o poder sem pelo menos sofrer.
os pedestres, os veiculos, os vinculos
a peça da loja, o preço da soja
os políticos e sua corja.
o hospital, o hotel, o restaurante e a cadeia,
o muro pichado, o monumento mijado
o pertence roubado.
o xingo, a gratidão, a impaciência e a razão
a forma de traiçao, a falta de proteção
a industria da prostituição,
os raios de sol, a luz da lua, a natureza sozinha
a voz da vizinha, o berço da criancinha
um toque na campanhia.
o relógio ja despertou
mais uma vez avante
deixe a preguiça e levante.
a cidade já acordou.