PORTUGAL
§ Hoje (quase envergonhada, confesso...), vou partilhar com vocês um trabalho que fiz há mais de trinta anos (!), para apresentar num processo de selecção a uma bolsa de estudos a que me candidatei...
O desafio era escrevermos algo sobre a nossa terra, folclore, tradições, usos e costumes, lendas, modos de vida... como era um concurso de âmbito internacional (eu iria ser embaixadora do meu País, afinal, indo estudar durante um ano no estrangeiro), eu optei por falar da minha, nossa terra... Portugal. Resultou uma descrição poética, "naïve", cheia de rendilhados próprios dos meus sonhos de dezoito anos...
Vou resistir a retocar o texto... Tenho pena de não poder partilhar com vocês o manuscrito, todo rasurado, impresso a tinta vermelha (vá-se lá saber porquê, não me lembro, provavelmente por falta de outra esferográfica...), pela minha letrinha redonda e desenhada...
PORTUGAL
Portugal é um cantinho do Mundo voltado ao Atlântico, à imensidão inquieta e indomável que lhe beija os recortes graciosos da costa. Não mais que uma faixa estreita, um fundilho rendilhado a emergir das vestes da velha Europa.
Embalado pelo murmúrio supremo e eterno do mar, que desde sempre fascinou o seu povo e o chamou à descoberta de novos mundos, abre-se ao visitante, pródigo de belezas naturais e acolhedor no seu clima ameno de região temperada. Desde os verdes campos do Minho à paisagem pitoresca do Algarve, Portugal é um livro cujas páginas coloridas são fontes inesgotáveis de inéditos espectáculos de beleza e convidam a um desfolhar constante e ávido...
Queres acompanhar-me no meu roteiro por este país que acabo de te apresentar?...
Vem, dá-me a mão, e que a esse gesto que leva o mais puro sentimento de fraternidade das almas simples do meu povo, mistures o calor dum sorriso de criança com olhos de mel... Vem comigo bater à porta do povo do Minho, vem encher os teus olhos do verde dos prados viçosos e do mar buliçoso, vem dançar o vira numa roda de amizade e provar o vinho verde em taças feitas de mãos dadas! Vem sentir a beleza agreste do interior transmontano, em contraste com a hospitalidade das gentes, que não conhecem outros horizontes que não sejam os que são testemunha do seu dia-a-dia laborioso, e outras leis que não sejam "dar pão a quem tem fome e água a quem tem sede". Esse povo de mãos opacas e olhar transparente, que vive nas típicas casas de pedra nua sobreposta. Sobreposta como os anos árduos que vão passando e lhe sugam a vida...
Vem, o Sol não se pôs ainda, vem ver os vinhais em socalcos, como escadaria majestosa, que bebe no Douro e quer tocar o céu.
Vem viver a alegria que brinca nos cantares das moças vindimadeiras, enquanto colhem o manancial de cachos feitos de sumo e suor. Vem assistir à festa-vindima, vem ver de perto o nascer do tão famoso Vinho do Porto, que irá escorrer até à invicta cidade que o baptiza e o escoa para o mundo...
Vem, vamos molhar os pés nas praias do norte, e sorrir aos pescadores de esperança, nas águas tantas vezes revoltas do desespero...
Vem apreciar os encantos da Serra da Estrela e atira um beijo à simplicidade das gentes da Beira. Sobe comigo às encostas íngremes, deixa que a paisagem te vista os olhos de branco e diz comigo que o Mundo seria belo, se ninguém maculasse a pureza virginal da Natureza!
Vem ouvir o Mondego sussurrar palavras de amor a Coimbra enamorada! Vem, embriaga-te na profusão das cores, sorve os fluídos duma vivência sã, vem, é já o Tejo que nos chama a correr as suas lezírias no cavalo de um campino! Não ouves? São os requebros lânguidos dum fado que fala de Saudade... Vem, à descoberta de Lisboa, demora-te a olhar as suas oferendas artísticas, banha-te na luz mágica, em reflexo encantado, das suas sete colinas!
Vem, deixa de olhar para trás, agora, e corre ao encontro dos campos de ouro seco do vasto Alentejo! Limpa o suor da ceifeira exausta com um sorriso de Primavera chuvosa, vem, corre a admirar a filigrana delicada, talhada pelas mãos rudes do povo, das chaminés algarvias!
Vem sentir a brisa fresca da maré, liberta-te do calor da terra nas paradisíacas praias do litoral sul! Vem ouvir as histórias dos pescadores, temperadas com o seu sotaque cantado, que adquirem falando com o mar... Vem voltear num círculo de amor ao som do corridinho algarvio, e vem!..., num turbilhão de ondas e alegria, cair aos pés da Pérola do Atlântico! Guarda a beleza florida da Madeira, mas reserva espaço no peito para colheres o encanto dos Açores! Vem ver a vida correr, nas levadas de cristal fluído, que sulcam as ilhas de formas vigorosas, quase abruptas, vem esgotar a avidez dos teus olhos no cenário quase irreal das caldeiras vulcânicas, perfumadas de hidranjas floridas!
Vem, bebe pelo cálice da fraternidade humana e tudo será tão mais belo neste cantinho perdido a um canto do Mundo! E não te esqueças que esse cantinho se chama PORTUGAL!
Teresa de Jesus Ferreira Teixeira
20/05/1978
§ Hoje (quase envergonhada, confesso...), vou partilhar com vocês um trabalho que fiz há mais de trinta anos (!), para apresentar num processo de selecção a uma bolsa de estudos a que me candidatei...
O desafio era escrevermos algo sobre a nossa terra, folclore, tradições, usos e costumes, lendas, modos de vida... como era um concurso de âmbito internacional (eu iria ser embaixadora do meu País, afinal, indo estudar durante um ano no estrangeiro), eu optei por falar da minha, nossa terra... Portugal. Resultou uma descrição poética, "naïve", cheia de rendilhados próprios dos meus sonhos de dezoito anos...
Vou resistir a retocar o texto... Tenho pena de não poder partilhar com vocês o manuscrito, todo rasurado, impresso a tinta vermelha (vá-se lá saber porquê, não me lembro, provavelmente por falta de outra esferográfica...), pela minha letrinha redonda e desenhada...
PORTUGAL
Portugal é um cantinho do Mundo voltado ao Atlântico, à imensidão inquieta e indomável que lhe beija os recortes graciosos da costa. Não mais que uma faixa estreita, um fundilho rendilhado a emergir das vestes da velha Europa.
Embalado pelo murmúrio supremo e eterno do mar, que desde sempre fascinou o seu povo e o chamou à descoberta de novos mundos, abre-se ao visitante, pródigo de belezas naturais e acolhedor no seu clima ameno de região temperada. Desde os verdes campos do Minho à paisagem pitoresca do Algarve, Portugal é um livro cujas páginas coloridas são fontes inesgotáveis de inéditos espectáculos de beleza e convidam a um desfolhar constante e ávido...
Queres acompanhar-me no meu roteiro por este país que acabo de te apresentar?...
Vem, dá-me a mão, e que a esse gesto que leva o mais puro sentimento de fraternidade das almas simples do meu povo, mistures o calor dum sorriso de criança com olhos de mel... Vem comigo bater à porta do povo do Minho, vem encher os teus olhos do verde dos prados viçosos e do mar buliçoso, vem dançar o vira numa roda de amizade e provar o vinho verde em taças feitas de mãos dadas! Vem sentir a beleza agreste do interior transmontano, em contraste com a hospitalidade das gentes, que não conhecem outros horizontes que não sejam os que são testemunha do seu dia-a-dia laborioso, e outras leis que não sejam "dar pão a quem tem fome e água a quem tem sede". Esse povo de mãos opacas e olhar transparente, que vive nas típicas casas de pedra nua sobreposta. Sobreposta como os anos árduos que vão passando e lhe sugam a vida...
Vem, o Sol não se pôs ainda, vem ver os vinhais em socalcos, como escadaria majestosa, que bebe no Douro e quer tocar o céu.
Vem viver a alegria que brinca nos cantares das moças vindimadeiras, enquanto colhem o manancial de cachos feitos de sumo e suor. Vem assistir à festa-vindima, vem ver de perto o nascer do tão famoso Vinho do Porto, que irá escorrer até à invicta cidade que o baptiza e o escoa para o mundo...
Vem, vamos molhar os pés nas praias do norte, e sorrir aos pescadores de esperança, nas águas tantas vezes revoltas do desespero...
Vem apreciar os encantos da Serra da Estrela e atira um beijo à simplicidade das gentes da Beira. Sobe comigo às encostas íngremes, deixa que a paisagem te vista os olhos de branco e diz comigo que o Mundo seria belo, se ninguém maculasse a pureza virginal da Natureza!
Vem ouvir o Mondego sussurrar palavras de amor a Coimbra enamorada! Vem, embriaga-te na profusão das cores, sorve os fluídos duma vivência sã, vem, é já o Tejo que nos chama a correr as suas lezírias no cavalo de um campino! Não ouves? São os requebros lânguidos dum fado que fala de Saudade... Vem, à descoberta de Lisboa, demora-te a olhar as suas oferendas artísticas, banha-te na luz mágica, em reflexo encantado, das suas sete colinas!
Vem, deixa de olhar para trás, agora, e corre ao encontro dos campos de ouro seco do vasto Alentejo! Limpa o suor da ceifeira exausta com um sorriso de Primavera chuvosa, vem, corre a admirar a filigrana delicada, talhada pelas mãos rudes do povo, das chaminés algarvias!
Vem sentir a brisa fresca da maré, liberta-te do calor da terra nas paradisíacas praias do litoral sul! Vem ouvir as histórias dos pescadores, temperadas com o seu sotaque cantado, que adquirem falando com o mar... Vem voltear num círculo de amor ao som do corridinho algarvio, e vem!..., num turbilhão de ondas e alegria, cair aos pés da Pérola do Atlântico! Guarda a beleza florida da Madeira, mas reserva espaço no peito para colheres o encanto dos Açores! Vem ver a vida correr, nas levadas de cristal fluído, que sulcam as ilhas de formas vigorosas, quase abruptas, vem esgotar a avidez dos teus olhos no cenário quase irreal das caldeiras vulcânicas, perfumadas de hidranjas floridas!
Vem, bebe pelo cálice da fraternidade humana e tudo será tão mais belo neste cantinho perdido a um canto do Mundo! E não te esqueças que esse cantinho se chama PORTUGAL!
Teresa de Jesus Ferreira Teixeira
20/05/1978