Sede
Desejo, fissura, fixação
A vontade de ter, de ser.
Desejos demais.
Que de cá ou de lá, a vida nos remete, nos machuca e cura nossas feridas
Sedenta que é
É mais sedenta que nós
Mesmo nos dias mais sedentos.
Insaciáveis somos.
No instinto quase selvagem que invade, que queima quando sabemos bem o que queremos
se diria poeta?
Pois nunca sabemos o que é que nós queremos.
Talvez quando crianças
Talvez num dia frio, de chuva espessa
Na frente de uma TV
Ou com aquela meia de algodão que a gente gosta, porque esquenta bem as pontas dos dedos...
Quando estava escuro e sentíamos medo
E chorávamos.
Só aí diria talvez (mesmo e bem: "talvez!")
que diremos?
se diria filosofia?
Pois não sabemos quem somos
Ora no leito de amor
De desejos, por muito guardados,
Que destilam... no suor da fronte
E terminam num gemido quase inaldível, prazer?!
E percebemos que não era nada daquilo (poderia rir)
Ora quando convencemos a nós mesmos de uma conversa tola
Pelo que fizemos de errado
Ou pelo mal que criamos
E mentimos às paredes do quarto
Dormimos tranqüilos
Na mentira que aguarda e prepara a vingança
No dia que há de vir.
É quase ou pouco menos do que somos.
E vivemos. (ponto final).
Momentos após momento
Cercados de valores deturpados
Caprichos
E coisas tão vãs quanto o âmago fervoroso e sedento (voltamos à sede) de todo o nosso pobre e maculado intelecto
Para descobrir de tudo o que nos foi estipulado
Que não podemos fugir
Nem agora
Nem em todas as outras vezes que a vida nos quiser (por caprichos vulgares) fazer chorar. Ela fará muitas vezes, e acredite, dói.
E, quando em fim aprendemos
Só o que podemos fazer é ver valor e respeito
Não ao desejo
Ou ao querer
Ou à mesma sede (ah! aquela história de sede!)
Mas às lágrimas
De chorarmos mesmo
Chorar com força, vontade, com o rosto apertado no travesseiro
Arrancado do fundo da alma
Mas de chorarmos sempre
Por tudo aquilo
E só.
Nem mais nem menos que aquilo
Que pague, como a jóia rara
Como a pedra preciosa
À cada uma de nossas lágrimas.