Morte de um Rio (T04)
O sol bate na imensa massa corrente e líquida
que dá o seu sinal de vida no luminar do dia.
A água corre mansa e amigavelmente
aos olhos das lavadeiras que se encontram às suas margens.
Uma curva mais adiante e ele some como num passe de mágica
mas ao acompanharmos sua trajetória
vemos ao longe uma longa caminhada
ainda a ser percorrida.
A vida que ele carrega em seu ventre
é infinita e maravilhosa.
Os peixes manifestam sua alegria
ao pularem para fora e imediatamente mergulhando,
demonstrando um espetáculo de rara beleza.
Pescadores forram suas redes e
enchem seus balaios e vão
alegremente para casa pois já tem o que comer.
Às margens uma sinistra muralha se ergue
impondo-se sobre ele.
Algo estranho começa a flutuar no rio,
que em princípio pareceu belo à frente das pessoas.
Mas pouco a pouco os peixes que saltavam sobre as águas,
os pescadores que voltavam alegres para casa,
deixam de serem os mesmos,
os peixes flutuam imóveis e
os pescadores não têm seus balaios cheios,
e o rio que antes era belo ao sol da manhã
recebe um aspecto frio e sombrio como uma
alma a vagar solitária sem rumo e sem direção.
Alexandre Brussolo (02/07/1990)