Dueto

DUETO

Eu sinto tanto, tanto amar, tanto pesar, sinto chorar, me dói sentir e de tanto sentir me dói.

Doer pra quê? Por onde ir, nem sei se vou seguir, é um misto de compaixão, tanta mácula no coração, medo, desejo e uma brisa de emoção.

No meu mundo algo distante, muito distante aparece, não quero ver o que acontece, dizem por ai que há uma palavra difícil a se tocar o coração, falam por aí que é a tal razão.

E não era como tal, esse lado racional, comedido, destemido, impermeável, voraz, quanta atrocidade nesse mundo sem coragem, viver nunca foi banal.

Mas não adianta, isso me consome, é inevitável, não consigo pensar, é um impulso neural, algo pra lá de sentimental, emoção virtual, real.

É o ar desse mundo contemporâneo, o avanço, evolução, mas nada disso cala o meu pranto. O coração ainda clama, há um céu em chamas, mesmo em brasa, esquenta, acalma, purifica,embriaga. Quanta oscilação.

Mas não quero o mundo, fujo da realidade, minha vida é só saudade, meu corpo é só coração, batimentos, sensações, sentidos em imensidão, vivo na ilusão.

Acalma coração, não é hora, as tuas feridas ainda choram, querem calma, complacência, preciso de paciência.

Não,eu não quero,quero entrar de cabeça na minha vida, viver uma paixão, arrastar minha alma, um misto de poesia e canção.

Mas como querer, se isto não coexiste com o meu poder, há um sentido mais amplo, planos, sonhos, desejos, encantos, uma vida nova, uma nova vida, cheia de expectativa, ansiedade, esperança, realizações e cicatrozes ainda mal reconstituídas.

Mas eu quero querer, viver pro meu bem-querer, não penso em raciocinar, isso me cansa, as coisas são mais simples, você complica demais meu bem me quer, o meu desejo é só amar.

Amar pra quê? O sentir quase me enfarta, as decepções são contínuas, não daria tanto de mim, não receberia de quem quisesse doar. Há um coração ríspido, carente, ressentido, ténue, fingido.

Enfartar pra que?Quero me fartar, me lambuzar, entrar feliz ao mar, cantar, dançar, sentir o sangue latejar, não te reconheço, cérebro não sabe amar.

Mas existe para pensar, em certas situações prevalecer, a carência não vai mais me desvairar, vou saber medir, andar, não vou largar mão do amor, mas vou saber me doar.

A emoção não tem medidas, não cabe o certo e o errado, o que importa é sentir, viver, carência pra que?Não existe o doar, só há espaço pra se dar, ou você não quer amar?

Eu não saberia responder, me ausento de definições, querer não é poder, e nem tudo tem porque, deixe-me só, quem sabe um dia, um outro dia, ele me venha, chegue mansinho, aos poucos saiba se insinuar, mas não agora, não há uma hora, mas nos meus dias ainda existe muito pesar.

E dessa forma te reconheço na mistura uma explosão, me causa extrema confusão, és a razão, eu a emoção.

Adele Nobre e Luana Ferraz