Vibração
Ainda o assombro.
Longamente, na vigília ondulada da noite, as ondas sonoras vibram num vale de água, as veias amadas onde flui o sangue num eco, digo-te na transparência de uma hora assim. Encontro o risco crepuscular de um lugar: onde não fui, nem num instante podia sorver a imagem inexorável de um espelho fulminante. Longamente, rente aos lábios
ou o desenho damasco do infinito. O mar aberto onde caminhas com o rosto esboçado nas aves. Que palavras cavar quando as sílabas fossem mais leves que o vento alto de cabelos azuis do silêncio? Como pronunciar o delírio que devaste a sombra do corpo? Florir os dedos descidos sobre a têmpora de uma emoção ágil,
ainda o assombro.
Em ti a vigília dilui as paredes, inventar outros vidros que ferisse a impaciência insone além do dia. A claridade assola a respiração, o verbo de querer nos retratos um momento único. Como o tempo que vibra. A face cintilante sob a manta das pálpebras. Distrai-me o sentir dos pulsos interiormente, corrente de luz enredada na presença dos astros, por aí,
nos vértices do assombro.