Flor de Papel - uma prece à vida

Deitou-se. Pegou a pena e se sentiu tão viva quanto em seu nascimento.

Sua intenção era apenas se matar nas palavras, embrigar-se nos poemas e ainda que tão vã: viva.

Preparou-se da forma que julgou ser o ideal. Contemplou idéias do que escrever, pensou em temas, em títulos em estruturas e por fim, julgou aquilo tudo muito ruim.

Sentiu-se traída por tudo e ainda pelas palavras. Mas precisava ter ainda um pouco mais que somente sangue correndo em si, precisava ter vida.

Queria ouvir seu suspiro, levantou e fechou a porta.Tão logo as idéias surgiram, mas ela nem tinha mais tanta ânsia em escrever e fez um pequeno desenho no lado direito da folha.

Acho, que era uma flor. Mas saiu assim um pouco borrada. Creio que com as lágrimas a menina achava que podia regar sua flor de papel.

Ela desenhava palavras na flor.

Consegue entender o que é isso? Tão perto de escrever as palavras e tão organizadas em si, ela apenas desenhou.

E ela sentiu que naquela flor estava tudo. Sua tristeza, sua felicidade, sua ...

Desenhou no galho, no fino galho, tão simples, um espinho. Um único espinho. Ela julgou um somente, capaz de escrever no seu desenho tudo que ela precisava dizer. Um só era o bastante para que estivesse completo.

Regava sua flor com suas lágrimas.

Por alguns instantes ela nem lembrava mais o que a levava com tanta sede à escrita.

Ela só queria sentir seu sopro de vida. Queria dar um grito a estremecer seus pulmões. Ao invés disso: suspirou.

Em sua oração, declamou tão suavemente e tão baixo, que só os anjos escutaram sua prece:

"O Iesu mi dulcissime,

spes suspirantis animae!

Te quaerunt piae lacrimae,

Te clamor mentis intimae."

Fechou os olhos. E adormeceu....

Ísis Almeida Esth
Enviado por Ísis Almeida Esth em 17/10/2008
Reeditado em 14/12/2008
Código do texto: T1233543
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