Caminhos
O Sol nunca vai brilhar o bastante para quem se esconde nas sombras
Uma rocha bruta nunca vai libertar seu diamante se não houver paciência e labuta
Como é bom viver e ruim decidir o que fazer ante o vazio que nos
invade subitamente
Sinto vontade de conhecer aquela pessoa que está sentada sozinha no
ponto de ônibus
Lendo um livro de Dostoievski e comendo castanha sem se importar com as cascas
Mas o meu ônibus acabou de chegar.. meu cansaço e minha letargia não
me deixam ficar
Ser livre para as possibilidades singelas, quebrar as regras óbvias,
andar enquanto correm
Inconscientemente, continuo sendo subordinado do mercado, mesmo fora
do horário de trabalho
Chegando em casa, abri a grade, abre a porta enfadonhamente
Tranca solenemente, joga as chaves na estante
E pensa por um instante que vai encontrar a mãe na cozinha, o pai na
sala, a irmã em frente ao espelho, o sobrinho no quarto, brincando de
ser escoteiro...
Se joga na cama, os pés sufocados pelo sapato abrupto, a camisa
amarrotada, olhando para a janela, vendo uma árvore bailando seus
galhos e lhe ofertando um frescor dos deuses
vira para outro lado, olha um quarto empilhado de livros a serem
lidos, de roupas a serem engomadas, de poeira a serem dispersadas,
duas medalhas penduradas na parede - tempo em que corria levemente...
e um quadro torto, que consigo ver com um enquadramento perfeito...
Então quem estava torto?