Licença Poética

Peço então licença a Deus, pois aqui entrarei discípulo forte

Já destrocei os dogmas e preconceitos com trejeitos paranormais

Deus fez minha alma muito esbugalhada, de rompante, atrevida

Já peço um perdão, que o pecado me ronda e sem pecar não vivo

se não cumpro cada versículo, pelo menos me redimo num verso,

se há muito não rezo o terço, pelo menos construo um texto

bem maior do que o nada e sou pouco menos que o texto onde estou!

Licença, queridos que me puseram neste mundão que não se acaba

Ligaram-me em alta voltagem, vivo com a cabeça acelerada...

Deve ser de amor, o amor é criativo e cheio de energia acumulada

neste item não conto dieta nem reservas, o consumo é descontrolado

e dele tiro verbos, sujeitos, predicados, crio mundos meio alternados,

às vezes penso que se a metáfora existe, sou essa tal metáfora

Eu bebo a seiva das palavras e transpiro versos descompromissados!

Por favor, dá-me licença o inventor da renomada hipocrisia...

Não sei bem o que essa pitoresca figura com isso pretendia

mas se tenho a oferecer uma queixa, certa ou errada, vou de testa,

meu olhar não esconde exatamente nada, meu rosto é de cristal,

qualquer um vê nele o meu espírito desenhado, esfarinhado, sopesado

Se não controlo o rubor da face envergonhada, qual face de nada,

pelo menos escrevo em outras cores, ainda que na parede amarelada!

Com licença, senhora tristeza, hoje minha agenda está bem lotada

Pra você não terei nunca hora marcada e sem hora não a recebo!

Se quiser adentrar meu corpo sem avisar, meu sorriso há de te derrotar

não ouse atacar-me, à sua perfídia sou imune, meu lume é tinhoso...

Se vier, vai me encontrar cantando e dançando com minhas crianças, plantando poemas na lua, fazendo o bem ou dormindo com anjos azuis

Se de tudo conseguir gritar comigo, saiba que vou chorar e esquecer!

Mas não vou pedir licença à solidão, essa quero arrancar com dentes,

arrastá-la a solavancos sem pudor ou educação, ela venha pra ver!

No combate entoarei estes meus meus versos pouquíssimo rimados, floridos, perdidos e achados, onipresentes, pecadores e salientes

e num rompante pouco menos que um instante gritarei triunfante

porque alguém há de ouvir e estar comigo numa luta pouco rimante

por poemas livres, alados, de pensar, de sofrer e de sorrir...

Com licença, arte, só por hoje deixe-me pensar que sou poeta!

Nalva
Enviado por Nalva em 13/10/2008
Reeditado em 08/10/2009
Código do texto: T1226726
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