Sangue sem cor

Prólogo:

O sangue é um tecido conjuntivo líquido que circula pelo sistema vascular sanguíneo dos animais vertebrados. O sangue é produzido na medula ossea vermelha e tem como função a manutenção da vida do organismo por meio do transporte de nutrientes, toxinas (metabólitos), oxigênio e gás carbônico.

Sangue arterial é o sangue rico em oxigênio, que circula pelas veias pulmonares e pelas artérias sistêmicas. O termo sangue arterial não significa sangue que circula nas artérias, mas sim sangue rico em oxigênio. O sangue que circula nas artérias pulmonares é denominado venosos, pobre em oxigênio.

O sangue arterial segue a parte venosa da pequena circulação até atingir, no coração, o átrio esquerdo, o ventrículo esquerdo, as artérias, arteríolas e capilares sistêmicos. Nestes últimos, o oxigênio do sangue arterial, por difusão, passa às células do organismo. Somente os capilares fazem essa troca com as células, as artérias e arteríolas são muito espessas para tal difusão.

Não é azul, verde, amarelo, preto ou vermelho o sangue agora incolor. Quente pulsante e apertado entre músculos, ossos e dobras de pele sem cor, é esse líquido vivaz que faz o ar convergente, tépido, fluir por vias estreitas para pulmões apertados, presos sem correntes, em dor lancinante, em busca eterna por mudanças, pela expansão da compreensão dos eternos desconfiados.

Tal qual linfa também descolorida, espumante, fremente, serpenteando por vias escuras, viscosas, ou galerias frias, profundas, desconhecidas; grita frenético pela liberdade e atenção de uma flor, menina-mulher, que jamais desfloresceu mesmo ante as vicissitudes, castigos imerecidos, infames, da vida material.

Implora esse tecido conjuntivo líquido que circula pelo sistema vascular sanguíneo dos animais vertebrados, viscoso, plangente, carinhoso que o deixe matar a sede com o seu fluido vivificante de forma incondicional, sem culpa, ainda exangue e sem cor, aspergindo pela boca tal qual essência de perfume floral.

Igual aos olhos lacrimejantes pelo terçol traiçoeiro, semelhante às estalactites cristalinas, gotejando pacientemente e congelando antes de chegar ao solo onde depositaria o humo sagrado para lenir a dor de quem sabiamente queira se libertar cai o sangue sem cor, tentando debalde, por meio de textos insulsos, difusos, sem ninguém para compreender, acudir e levantar.

Originário da gênese de um coração ardente, encerrado numa gruta gélida de um corpo escanifrado, incompreendido, conspurcado; o sangue sem cor é como um homem incoerente, inconsciente, carente, impaciente, acorrentado a princípios, limitado, sufocado, talvez, alguém sem rosto, sem nada além do pouco saber e muito sonhar com utopias e fadas nascentes em seu jardim florido apenas imaginado.

Não serei apenas a música estilo “new age”, branda ternura e dedicação extremada, beijo respeitoso em uma boca que aos poucos se abre para a luxúria crescente, que embalará teu sono e te fará sonhar colorido. Serei algo mais. Serei a realização dos teus anseios.

Ao me transformar em um ser mais perfeito, purificado, sairei da torpeza mundana e terei algo que sobeja na alma doce, no coração cereja, no espírito altaneiro, no sorriso melífluo tal qual mais puro néctar à flor da terra, do jardim encantado, expelindo eterno sutil perfume vaporoso argentado.

Possuirei a verdade nas ações mais benfazejas e nas pernas fortes a força que me conduzirá onde estiveres para o porvir da glória no esplendor de tua crença, confiança, benevolência e magnânima paz.

Após essa metamorfose, por difusão, tão desejada e necessária, de bom grado preencherei, enfim, o vazio recôndito de teu coração com o sangue colorido, purificado, pela renovada esperança que te alegrará e deixará em perene festa.

Terás a paz sublimada e verdadeira qualidade de vida. Serás feliz. Sorrirás triunfante. Gozarás as delícias do amor ansiado e sem-fim. Terei como função a manutenção da vida do teu organismo por meio do transporte de nutrientes.

Nesse ínterim, serei o teu sangue arterial e riquíssimo não só em oxigênio, mas em vida que te levará à vida. Ensinar-te-ei a enxergar mais longe para que possas sentir não apenas a plenitude do prazer, mas, sobretudo a conquistar o acme do gozo, justo, grandioso e merecido, desprezando os medos e as culpas existenciais de forma tão hipócríta defendida pelos broncos e maioria dos mortais.

E quando isso acontecer deixarei de ser o visionário sofrido, amaro recalcitrante, inconveniente e malíssimo venoso sangue sem cor.