O óbolo de Caronte

O óbolo de Caronte

(O grito do amor não correspondido)

O amor não correspondido é uma caverna onde habita a podridão do mundo. É o refúgio dos insanos de alma fraca, onde todos cospem, que todos desprezam.

O amor não correspondido é a solidão dos conscientemente mortos, dos adoradores de Satã. É a vingança das vítimas de vidas passadas, o fruto do ódio e da vingança amadurecidos durante os milênios.

A dor do amor não correspondido é maior que qualquer dilaceramento da carne, é a humilhação mais horrenda, a punição que torna paradisíaca a pior das cadeias. É uma dor que rouba o sono, depois a fome, depois os sabores, depois as cores e, finalmente, os sentidos.

O amor não correspondido é a sombra mais densa, onde luz nenhuma – temerosa – entra. É pior que a morte, já que a morte é o seu livramento. É a droga no sangue que se adensa e coagula enegrecido em nosso corpo. É o veneno que se engole com a saliva. é o fogo constante diante dos olhos. É a mão que paralisa em busca de carícias. É o sêmen negro-sangue que escorre pelos vãos das outras. É vagar pela vida em meio à morte, é navegar no rio das dores sem o óbolo de Caronte.

(Djalma Silveira)