Fernando e tantas Pessoas
"E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar."
(Fernando Pessoa)
Dos tantos mares que minhas íris já viram, a última onda levantará em tubo e arriscarei.
Dos tantos ares que meus cabelos sentiram, a última rajada estará à queda e ao corpo.
Dos tantos chãos que meus pés caminharam, em Santiago ainda pisarei.
Das tantas terras que sujaram minhas unhas, a mais escura ainda não me cobriu, nem cobrirá.
Dos tantos vermelhos que aqueceram minha pernas, a última fogueira ainda será acesa no deserto.
Dos tantos desvãos que minha alma perscrutou, o maior ainda está por brilhar-me.
Dos tantos corpos que deitaram em meus sonhos, o último tomará o que teve o primeiro.
Das tantas paixões que me cobriram em manta, a eterna será feita de retalhos.
Dos tantos gozos que me escorreram, o último ainda me inundará.
Dos tantos amores escritos no coração, o penúltimo dorme em meus braços.
Dos tantos nomes que se juntaram ao meu, o derradeiro está no risco da palma da minha mão.
Simultâneo:
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