Realidade
Nua, de traços bruscos e nada gentis, cabelos sedosos. Seu corpo disforme e nodoso tem unhas encravadas como seu coração que nutre um ventre sempre prenhe de lamúrias e absurdos. Viciada daquilo que é feita, embora pouco fale, sua voz de tão grave, quando abre seus lábios dilacerados por dentes alheios, seu hálito fedentino compõe dizeres que nos rasgam o coração. Carente de atenção, seus olhos remelosos, coçam-se em mãos ásperas e choram as lágrimas da infância -- de algum jeito tem que pô-las pra fora -- e agora que é gente grande por ventura a todos abraça, e quando o faz, forçosamente roça os seios em nossos rostos, impregna-nos com seu chorume insuportável, chorume este que leva artistas ao delírio, mas também, os fracos à morte. Alguns, já acostumados ao seu jeito, mais aqueles que vivem na desilusão, pra eles jamais iludida, de uma vida inerte e não sonhada, são omissos por sua sedução marrom. Das infâmias caluniosas de nossa mente, ela é a maior, com sua risada grosseira, caçoa dos pobres, mas infelizmente não morre de rir, parece não morrer de jeito nenhum, ela é a mais astuta comediante da tristeza.
Nojenta.