Fotografo o Futuro
Fotografo o futuro, com uma máquina digital barata. Não o que virá, mas o que não virá. Esse é o interesse pela fotografia. E em cada momento terei o tempo lembrado como uma memória absoluta onde se foi viver
o labirinto impossível dos lugares.
Porque o interesse de fotografar – insisto – é percorrer a passagem para um dia próximo - que se atravessa numa acção necessariamente imprevisível. Por esses lagos só concebíveis na alteração,
quando a paisagem nos dissolve como seres distantes.
De signos diluídos, uma estrada aberta em cada recanto sensível, o que foi definidamente recortado. Todas as previsões derivadas de árvores invisíveis ou de sombras recolhidas por uma noite imensa que não existe. Poderemos ouvir a morte num eco,
as aves individuais do sonho, os lábios ávidos dos nomes no futuro.
Repito, as aves e não voltam, a relva cresce ao fundo de um corredor oceânico sem limites. Fotografo o futuro numa lente límpida, preciso o instante dum filtro colorido e extenso, construir a moldura errante que fixe a luminosa água divisível do real.
Não sei o que virá.