Procura

Perdição. Não há desejo pecaminoso que se associe a esta palavra. Eu não dei conta de perder a cabeça por qualquer coisa do corpo, da pele, do cheiro bom que transgride as regras, tornando quase tudo sem censura. Eu me perdi pela alma, pela boca, pelas palavras, pelos desejos mais do que instintivos de querer bem.

Refiz a frase diversas vezes sobre promessas injuriadas, dolorosas. Tudo isto por que tinha convicção, e ainda tenho, de que muita coisa aqui dentro não vale mais a pena.

Quando perde o sentido, o solo se torna árido e as coisas começam a vagar. Não cabe mais, e mesmo assim, continua sobrevoando o território, sem querer dar vez ao novo.

O efeito do perde-se cria o vazio, traz o introspectivo, e é nesta fase que descobrimos o quanto somos pensante, intensamente.

A mente parece pestanejar com os olhos, você perde o passo, e esquece até mesmo o corriqueiro, o imediato. O que era mesmo que eu ia dizer?

Retire a sombra negra que há na palavra, e admita o pouco de solidão que há na sua vida, sempre tem, sempre falta. A procura é o sintomático, e não há tolice nisso.

Foi à procura, na maneira como descobri que ela estava fazendo partes dos meus dias, que me fez perceber o quanto tenho sido irredutível comigo mesma. Uma cobrança desgastante que firma o corpo e cria certos episódios, expectativa que no final me torna desconcertante.

Nessa perdição, sobre o sintomático da procura, e o efeito do perde-se, descobri que alguns meses estou “sozinha”, mas somente hoje passei a me sentir assim.

Que seja águia, abri as portas para que tudo voe longe, e se por acaso você me achar primeiro, faça um favor, me traga de volta.