CHOVE OU NÃO CHOVE?*
- Chove?
- Não.
- Chove, sim.
- Então por que perguntas?
- E por que dizes que não?
- Porque não...
- Não quê?
- Não chove.
- Eu sei que não.
- Chove, sim.
- Não chove. Põe a mão para fora e vê.
- Como vou ver se puser a mão pra fora?
Acaso tenho olhos nas mãos?
- Ora, esta! Põe a cara pra fora e vê.
- Não, porque vou gripar.
E mais, não preciso de ver, porque não duvido que chove.
Tu, sim, põe a mão para fora e vê.
- Ver? Porventura tenho olhos de peixe na mão?
- Mesmo que tivesses, olhos de peixe não vêem.
- Como sabes? Já foste um peixe? Ou um deles to disse?
- Nenhum dos dois. Refiro-me aos olhos de peixe
que dão no pé.
- ...
- ...
- ..?
- Mas que chove, chove...
- Não chove!
- Então por que sinto-me molhado?
- Não estarias molhado, mesmo que chovesse,
porque aqui dentro de casa não tem buracos.
- Tem sim!
- E quedê?
- Olha nas paredes; as portas, as janelas.
- ...Que estão cerradas. Não me refiro a esse tipo de buracos.
Digo buracos desnecessários.
- Tu...
- Como?...
- Tudo é desnecessário.
- Não, não é!
- É, sim.
- Se é, para que pedes para que eu veja se está chovendo?
- Porque preciso saber.
- Ah, boa! E qual a diferença entre precisar e necessitar.
- Eu não disse necessitar, e sim desnecessário.
- Pois disseste uma palavra justaposta. des-necessitar.
- Ora, não desvies a conversa. Afinal, chove ou não chove?
- Não. Já disse.
- Chove, sim! já disse!
- Ora, então por que perguntas?
- Aha! Agora estás concordando comigo!
- Não estou, não! Não chove, e pronto!
- Chove, sim! chove. E sabe o quê?
- Que que?
- O que chove.
- Água, que poderia ser? digo: se estivesse a chover,
choveria água.
- Não.
- Ora, então, que chove?
- As idéias do poeta, e já estou todo molhado. Chovem aqui dentro.
- E que fazer?
- Esconde-te debaixo da cama, que eu fico atrás da porta.
Assim, a gente fica seguro.
*(Amigo leitor, não termine a leitura deste texto sem comentar, pois seu comentário é de máxima importância para mim, jovem escritor. Obrigado.)