Verdade ou Mentira?

Prólogo:

Continuarei insistindo na tese e martelando na tecla de que: dar aos leitores o benefício da dúvida é mais sublime e reconfortante do que o real sentido do que se poderia mostrar com a força da verdade, do cruel desengano, provocado por um arroubo insolente após sofrido abandono.

Recebi um “e-mail” de uma notável leitora que me deixou deveras curioso. Trata-se de uma mensagem que me faz pensar ainda existir, nesse mundão que os cientistas tentam explicar a origem, pessoas de ilibada e comprovada idoneidade.

Essa leitora não foi petulante e tampouco arrogante, foi, ente de tudo, sincera e muito gentil ao comentar um texto de minha autoria intitulado “Cruel abandono”. No “e-mail” ela diz:

“Prezado Senhor Wilson,

Você é o pior poeta deste país! Estou zangada, infeliz e louca de ciúme quando escrevo estas palavras. Você mente o tempo todo, é incapaz de ser objetivo. Por que não se dedica à literatura? Sabemos que os literatos podem mentir descaradamente e exteriorizar suas fantasias para depois dizer que se trata de uma ficção muito bem arquitetada.

Você está tendo sucesso por saber que nós mulheres adoramos homens que se comportam como cafajestes (não nego que adoro esse tipo de macho bandido e raparigueiro), mas quero que saiba uma verdade: odiei seu texto “Cruel abandono”.

Odeio seu personagem "Analu" e odiei sua declaração de amor a essa "zinha" que certamente não compreende e nem sabe de sua grandiosidade como pessoa humana. Não consegui identificar se você foi abandonado por uma pessoa a quem muito deseja como companheira, amante, amizade “colorida”, ou se ao nascer, sua mãe antes de morrer, jogou-o na lata do lixo.

Confesso que quando li o texto “Marcas de amor” fiquei fascinada e curiosa pela relação selvagem que também adoro, mas meu encanto se desencantou quando esse que se auto-intitula “poeta de meia-tigela” (discordo de sua autodefinição, pois acho-o ótimo no que faz com a competência de um verdadeiro poeta) escreveu sua própria dor no texto “Cruel abandono”.

Venha ao meu encontro, para meu colo, que eu lhe agasalho e aqueço com meus beijos quentes e verdadeiros! Dar-lhe-ei meus seios túrgidos, meu corpo inteiro, para que sugue minhas energias e se alimente, mitigando o infortúnio que em seu espírito cresce.

Faça de mim o repositório dos seus sonhos e mais imorais desejos. Esqueça o personagem "Analu", a quem endeusa, porque tenho a absoluta certeza de que ela não lhe merece o tanto quanto eu.

Verdade ou mentira? Pode uma mulher ser burra o suficiente para abandonar um homem que escreve feito um demônio tal qual no texto “Pensando em ti” e tantos outros de sua autoria? Essa dona não lhe merece. Você é especial e precisa de uma pessoa que seja digna dos seus textos, mesmo que sejam eles mentirosos ou verdadeiros.

Em seus textos você diz, quase sempre, ter 87 anos, ser pobre, sofrido e mal-amado; muda de nome, coloca-se entre os personagens com o nome de “Henrique”, usa o nome dos seus cachorros, homenageia seus pais, diz ser apaixonado por uma pessoa que apelidou carinhosamente de “Analu” (odeio, sem conhecer, essa sua paixão não resolvida, amor sofrido e provavelmente sem futuro).

Ora, um homem que foi capaz de escrever “Ode à mulher” não poderá jamais ter sua libido comprometida com uma deslavada mentira. Isso é possível? Claro, você instiga e intriga, mas explica que “a realidade se baseia na mentira e vice-versa”. Isso é o que posso enxergar como genialidade mal-aproveitada. Gosto de como escreve, mas não sofra por uma pessoa que talvez não lhe mereça.

Ah! Cheguei finalmente a uma conclusão: Seja verdade ou mentira você é o ”poeta das ilusões”. Por definição ilusão é: Impressão ou sensação que não corresponde à realidade, por engano da mente, dos sentidos, ou causada por elementos externos.

No entanto, a verdade é que mesmo sendo um ótimo mentiroso e excelente articulador no uso das palavras eu sou sua fã. Adoro seus textos e você, pena que esteja apaixonado pelo personagem que nem sei se existe, chamado “Analu”. Beijos. Isabel”.

Então? Não sei se fui acariciado ou apedrejado. Essa leitora conhece meus textos e com muita propriedade fala sobre meu estilo. Quando eu me defino como sendo “anjo ou demônio” é exatamente por ter esse poder de suscitar polêmicas, dúvidas, reações apaixonantes de ódio e/ou admiração; é por saber instigar e incitar pelo uso das melhores ou bem colocadas palavras nos textos que escrevo.

Respondi-a e aqui explico que Analu existe e é uma mulher extraordinária! Ela é especial porque consegue ser a essência do que não se consegue analisar ou enxergar. Apenas os espíritos iluminados e benfazejos são capazes de identificar sua gênese, sua índole e capacidade de amar.

Protejo-a usando o pseudônimo "Analu" não apenas por sermos, ela e eu, pessoas públicas, mas sobretudo por ela ser digna de todo o amor e proteção possível. Não foi em vão que em um dos meus textos consegui definir essa mulher com sublimados e merecidos louvores ao escrever:

"Ela e a essência do que se pode imaginar em uma complexidade feminina. A perfeição nela sobeja porque possui: amor, discrição, inteligência, beleza, requinte, formosura e encanto feminil; excede em equilíbrio emocional e sabe compatibilizar conflitos pessoais, motivados por anseios reprimidos". (Texto - Desejo Magnético).

É claro que por comprovado denodo protejo minha notável ex-aluna. Ela é casada e quer se manter nesse estado espúrio, ilegítimo pelas leis do verdadeiro amor sentido. O amor filial, isto é, por dependência, é o vivenciado, no momento, mas ela trabalha e luta para sair dessa subordinação humilhante que não precisa e tampouco merece.

Em meus textos há verdades e devaneios, não mentiras. Não sou um mentiroso, mas sim um autêntico visionário. Também faço questão, quando escrevo, de ser conselheiro. Não se poderá esquecer jamais o que foi escrito no texto “Infidelidade versus Felicidade”:

“Meu conselho para todas as mulheres é simples: toda mulher deve tentar tudo o que ela gosta no ato do amor e acho que deve tentar gostar de tudo. Uma das muitas maravilhas do sexo é a existência de novas fronteiras a serem exploradas, novos parceiros com quem praticar. Segurança, discrição e aceitação recíproca é fundamental.

Nunca uma relação sadia, higiênica e bem-aceita deve ser tediosa. Não esqueça jamais que todo casamento, bom ou ruim, termina sempre em abandono, divórcio ou morte. Não espere um dos três infortúnios acontecer para tentar ousar ser feliz antes de descobrir que ficou sozinha, irascível, amarga e depressiva”.

Quanto ao fato de ser verdade ou mentira, tudo aquilo que escrevo, sendo esse julgamento feito por leitores visivelmente emocionados, explico minha conduta com os sentidos e palavras mais verdadeiras:

Todas as críticas aos meus textos estimulam-me à serena e imparcial compreensão dos sentimentos alheios. Com inabalável determinação e redobrada coragem de um autodidata e incipiente escritor, nada receio. Aos tropeços, tapas, pedradas e beliscões tudo devo. Não creio estar só nessa empreitada onde busco enaltecer a percepção que a alma tem dos objetos por meio dos sentidos.

Elevo a fronte, altivamente, sem injustificada empáfia para distribuir denodada felicidade a todos àqueles que se aventurarem a percorrer comigo os caminhos tortuosos de uma paixão sublimada, talvez em excesso, e que provavelmente não tenha, ainda, sido correspondida por incúria, alheia, até agora não superada.

Continuarei insistindo na tese e martelando na tecla de que: dar aos leitores o benefício da dúvida é mais sublime e reconfortante do que o real sentido do que se poderia mostrar com a força da verdade, do cruel desengano, provocado pelo arroubo irresponsável de uma paixão insolente após sofrido abandono.