Eu entardeço

Meu retrato é como este sol fugitivo e contraditório,

dizendo o "adeus" da partida vespertina,

enquanto mira suas beiradas arrastadas pelo mar imenso,

cujo azul ganha tons alaranjados e acobreados de saudades.

É ouro que amadurece e me acalma a ansiedade

e o olhar aguçado pelos matizes estroboscópicos diurnos,

ilimitando minha visão e minha imaginação.

Este entardecer doce e ameno, como eu,

já foi o jovem sôfrego caminhando para a frente e para o alto, no entanto, a maturidade sapiente natural verga seus raios suavemente,fá-lo voltar, no auge do seu fulgor,

às raízes celestes criadoras e pausar o momento que clama por inércia.

Paisagem dupla - céu e mar, multiplicando aspirações,

que tremulam ao tom do cobre das águas benditas,

e vibram minha alma selvagem, sedenta de natureza virgem.

Brincando de partir, o sol vai ficando,

enroscado às marolas cantoras, cativo das sereias lendárias;

segue ele afogado nas profundezas do meu ser, inebriando meus sentidos.

Se ele se põe ou nasce, fico em dúvida pensando...e pensando vou amando meu Deus-pai-criador-poderoso, pela dádiva da vida.

Assim é, que perco noções de tempo, perspectiva,

de proximidade, de longitude, pois enquanto entardece,

meus olhos esticam seus braços clamando calor e o têm,

seja na miragem do espelho azul-doiro-marinho,

ou no vulto de brasa riscando os céus!

Chego mesmo a crer que é infinito,

é eterno este entardecer vibrando no mar da vida,

fazendo-me pressentir o entardecer de amanhã,

com novas promessas douradas de calmaria.

Santos-SP-09/03/2006

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 09/03/2006
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