Elegia a um Pássaro

“O drama de hoje e sempre. Sou um homem

recém-hetero em rotas de violência.

Abrindo o meu caminho para a selva”.

Mário Faustino

Moldado para o sonho e as levezas, reina nas distâncias de meus olhos tristes.

As línguas do vento lambem suas asas, depois brincam nas fendas do meu rosto:

- Sou criatura aniquilada com desejo de impossível... O que em ti é beleza (azul-marinho-anil) em mim é cor que apena.

- Voar não é ofício para quem rasteja: a voz que me atormenta é de um pássaro...

Fala a língua dos que trazem em si as memórias de todos os vôos. Depois se oculta nas ruínas de meu muro, então espero pelas revelações de seus mistérios... Mas como é longo o tempo que cala... Então, me entrego ao desespero:

- “Inútilbelo”- rompi a grito o meu pacto de silêncio.

- “Malvadorrendo” - foi a resposta infame a quem deseja tão somente aplacar a amargura.

- Sou homem que abraça, digo em voz sumindo...

- Encontro de braços com asas? Jamais. Unir-me contigo! Nunca. Diz ele e acrescenta: - não configuramos figura legível em nenhuma paisagem.

- Sou irmão das libélulas – imploro...

- És obeso de aflições... Sou eu do belo o feitiço mais sublime. És um escândalo em matéria de torpezas. E quem foi que disse que estou aqui para planger-te as mágoas?

Desde o amanhecer tenho visões de paraíso, mas se esbarro em ti meu coração se enche de angústia. Contigo por perto é um viver em sobressaltos e meu coração lateja de aflito! Leio perigo em cada um de teus gestos e foi mirando-te a face que apreendi sobre o abismo...

Não basta ser-te acalanto e esperança? A ti coube a honra de ser o ser de meus mais angustiosos sustos, então se console e poupe-me os ouvidos de um ser gemente.

Mesmo sem muita convicção preciso explicar a esta ave que discursa e busco forças para meu argumento:

- Se fui moldado assassino e tu flutuas sobre os meus crimes, porçãozinha de meu riso... É verdade que me trazes alento e apaziguas a este peito arfante...

Todavia não escolhi ser um bruto e revelo-te um segredo: todos os dias ponho algodão nos olhos e saio para amar as criaturas... A aurora e o sol que nos alumia são testemunhas!

- Sim, quero ter asas como tu, mas somente para vôos de paz.

O meu maior anseio é por ser o oposto desses que andarilham o mundo portando punhais.

- Quero um existir de tranqüilidade, ser um homem conhecedor das harmonias. No meu sonho vou de aldeia em aldeia narrando a lenda, onde um homem e um pássaro-azul azul... São fraternais.