HUMORES DE COISAS, BICHOS E HOMENS
(para Valdorion Klein, fazendo “Pago”, em Camboriú/SC)
Tudo nasce, vive e morre. Toda imagem sofre o desgaste natural da passagem do tempo... A casa de estância ou o galpão um dia vira “tapera”. E nem por isso perde em essência, somente lhe falece utilidade. O tempo nunca é casto e virgem... É o curial destino das coisas, bichos e homens neste estar no mundo. Consta que até as pedras são seres vivos, mutantes... Só que nelas o tempo é oceânico, e para nós, em alguns bichos e vegetais – comparativamente – o tempo é um arroio que corre plácido, num dia sem a violência e o regateio das ondas sobre pedras e musgo. Em algum outro, dependendo dos humores dos ventos, vagas se desabam sobre casas, homens, coisas, árvores, tragando fumo nas ventas... A sombra de uma velha e ancestral figueira é sempre a mesma, mas é no verão que cumpre a sua vital proteção. E são as torrenciais chuvas e os ventos que solapam raízes e folhas. No mais, tudo é húmus. Curiosamente, o amor também não é plácido, porque energia do tempo de partir e de chegar. Neste, palavras fungam, bolem e benzem o dia seguinte...
– Do livro CONFESSIONÁRIO / EU MENINO GRANDE. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 294.
http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/1206937