Canto na lagoa...
Euna Britto de Oliveira
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Revi a lagoa.
Na lagoa onde uma das meninas quase se afogou,
Hoje, criam-se peixes.
Peixes grandes, que as freiras comem de vez em quando
E na Semana Santa.
A lagoa ficou menor,
As meninas ficaram maiores,
Eu não fiquei,
Saí para outros lugares...
Hoje, reapareci,
Apareci para a lagoa!
Não me reconheceu, claro!
Águas não reconhecem ninguém,
Quanto mais águas passadas...
Tudo e todos são irreconhecíveis para as águas,
Para qualquer água,
Tão sem memória,
Por mais que tenham entrado na história...
A lagoa tinha margens naturais, de terra,
Uma terra que era úmida,
Vegetação alta e abundante em volta,
E um barco.
Hoje, sem barco,
Está cercada de muro de cimento baixinho
Como se fosse um canteiro,
Canteiro de água,
Água verde-escuro que não estremece,
Viveiro de peixes, parada.
Uma estátua de São Francisco de Assis,
De braços abertos,
Emerge de um de seus cantos.
Parece que está a entoar seu Cântico das Criaturas...
A menina tinha uns três ou quatro anos
Naquele passeio de manhã de sol de domingo em que
Caiu do barco.
O barco estava cheio de meninas... – nenhuma sabia nadar.
A acompanhante das meninas, de farta roupa,
Também não sabia nadar.
Sua certeza de que nenhum mal poderia acontecer era total.
Soube empalidecer...
A lagoa era funda
E suas águas, então, barrentas.
Tenho certeza de que eu tinha 19 anos.
A menina se chamava Osvaldina.
Sem treinamento, sem ser salva-vidas,
De um impulso, pulei na água,
De roupa de inverno e tudo,
Salvei-lhe a vida.
Quem me usou e ajudou foi Deus.
Tudo mudou.
A lagoa mudou,
As meninas mudaram,
Eu mudei...
Só Deus não muda.
Canta, São Francisco, nos céus e na terra!
Do ponto em que te encontras nesta lagoa,
Engrandece ao Senhor!
Canta, também, por mais esta criatura...
Que agradece!
Tudo é Graça.
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BH, 30/09/2008
Lagoa do Convento São Francisco - B. Horizonte