[Poesia, Amor e Solidão]

Eu me entrego já, e aqui mesmo:

na madrugada, só faço poesia por que estou só,

e também, por que é assim, escrevendo,

que eu encurto a distância de mim a mim:

navegando só, em minhas vastas águas...

se eu não estivesse sozinho agora,

de certo, faria amor — poesia não!

Fazer poesia é escancarar a minha solidão;

é confessar que o meu pensamento em você

enovelou as paralelas linhas do livro que eu lia,

fez parar a comida na minha garganta,

botou-me na mão esta taça de vinho tinto,

e afinal, pôs-me aqui, a escrever... poesia!

A poesia faz coro com a minha solidão!

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[Penas do Desterro, 29 de setembro de 2008]