...como o beija-flor
Eu vi um beija-flor cumprindo a vida de passarinho, indo de flor em flor, tocando o mais fundo daquelas entranhas coloridas. Eu vi aquele minúsculo ser executando sua dança como há séculos. Enfeitando, sem o saber, as nossas paisagens, como sempre o fez, e pensei cá comigo que o mal de muitos de nós é formular tantas perguntas, andar em volteios de indecisão calculada em centímetros, milímetros, ignorar a paisagem que a nós se oferece, o olhar que espera pelo nosso... Por que não lançar-se ao abismo da plenitude sem limites, do gozo de existir, da entrega sem pára-quedas castradores?
Desatar-se das correntes desse excessivo racionalismo que nos leva de arrasto pela vida, quando poderíamos simplesmente estar sendo conduzidos por uma correnteza suave, ao invés de irmos aos trancos, com as mãos atadas por nossos medos e indecisões. Uma escolha, um delírio de suicida que se joga do penhasco para que, ao morrer em corpo, morram com ele as cadeias impostas por preconceito e posturas equivocadas.
Entrar naquele barco como os enamorados de O Amor nos Tempos do Cólera e simplesmente vagar ao sabor das águas e de um amor que o tempo preservou...
Quero te amar sem pressa, sem projetos, sem limites, quero te amar como azálea entregue ao seu beija-flor...