Sofrer é uma arte (ou O Livro da Dor)
“Assim como o poeta só é grande se sofrer”
Oswaldo Montenegro
Erra quem pensa que sofrer é conseqüência. Sofrer é uma arte, e na vida só cresce quem aprende a sofrer.
A começar que não se sofre por amor, sequer pela falta dele – amor é sentimento puro demais para causar qualquer malefício.
Pode-se sofrer assim: ser diferente da maioria das pessoas de maneira tal, a ponto de achar que algo de errado acontece consigo. Iniciar assim uma luta para mudar, lutar contra a própria essência tentando adequar-se a todos. Isso dói, pois os outros é que deveriam adequar-se com tal novo estilo.
Sofre-se também por distanciar-se de alguém, quer pela distância em si, quer pelo tempo, quer pela ação da indesejada das gentes. A falta da presença queima que é brasa no peito.
Sofrer tem níveis e estágios. Quem sofre pode ser letrado, graduado, mestrado, doutorado e pós-doutorado nas artes de sofrer. E quando a gente acha que já provou de tudo, sempre há um amigo do peito que nos pede a quimio e que jura por Deus que nunca nos abandonará. E do peito infesta nosso corpo, como se nos gostasse, mas como se nos sugasse. Isto também dói, e como!
Sofrer é uma arte. E quando a gente sabe escrever e não tem palavras para justificar um erro que causou mal a quem queremos bem, dói na alma como lobotomia, igual quando se faz um canal e a anestesia insiste em não cumprir seu papel.
Sofrer com um erro é o pior sofrer. É saber uma amiga querida nos odiando e não saber qual grito dar para que ouça, não saber qual perdão pedir para que repercuta bem.
Sofrer é uma arte e saber sofrer é um dom inato. Não se aprende, apenas se sabe.
Não pedi meu nascimento, mas aconteci; não pedi para ser poeta, mas eis-me aqui. Mas agora, dentre tantos sofrimentos que pedi, que não pedi e que me causei, fica assim a desastrosa conclusão:
Este artista quer mudar de profissão.