O viço das Violetas

O viço das Violetas

Veio em julho, junho talvez, pouco importa.

Importa que veio, o tempo era sol, era chuva, desesperança.

Colocou o riso de volta ao lugar, ocupou espaços, roubou da alma o pranto. E fez um canto.

Transformou dor em sabor.

Arrolou alegrias para certificar-se que havera fechado de vez a porta.

Trancafiou a porta da solidão, chaves e chuvas, travas e trovas, isolar.

Abriu em seguida uma janela inteirinha, ora para o sol, ora para o mar.

Sem cortinas ou grades, pode apreciar: andorinhas a revoar, garças a pescar.

Janela aberta, escancarada, chamamento, convidar.

-Vem...

-Vem olhar o que agora a janela quer te mostrar, mas não cansa!

Entrarão pequenos, minúsculos beija-flores,

- Repara! Tem vasinhos coloridos com Violetas na janela!

Eles atraem flores que aos colibris atraem que nos atraem.

- Observa cândidos pássaros que chegam musicais, inebriados com as envaidecidas flores.

- Aquieta... Psiu... fala baixinho,as borboletas, as abelhas estão beijando tuas Violetas.

Matizes lilás. De cores e sonhos.

Além da janela um mundo antes quieto a meditar, hoje burburinho, mundo de pétalas, cheiros, pólen, verdes.

- Ouve! É conversa animada, ritual do brotar...

- Repara que orvalho em pétalas é espetáculo único, cada gota é oferta, presente ao vicejar...

Esta, hoje, é a tua janela...

Cores, fragrâncias, texturas, envolvente descoberta.

E assim será por dias, cíclico.

O efêmero das flores servirá de ponte,

Ponte ao sol,

Ao calor advindo desse cruzar.

Se há pote ao final do arco-íris,

Há realização de sonhos ao final do viço das Violetas...