Abrigo

Em mãos aquecidas, uma na outra... Um esfregaço firme, em dedos calejados... Um aproximar de boca, na gélida constatação da noite fria.
Uma dança no corpo franzino... um pé ante pé... Na marcha fixa...
O homem abriga o corpo... Com olhos abertos do medo... Espera o dormir da cidade, para aquecer-se pleno.
Alguns segundos e  a cabeça vira... Roda gira...
Alguns momentos de ternura, no pasto que lhe acolhe os pés... Nas vestes, o cinza da cor das cinzas dos veículos que não possui...
A copa da árvore, abrigo... À cúpula responsabilidade, não paternalidade...
À cópula lance ao destino... A copa felicidade... Mito!
Alguns segundos naquela dança... O movimento da tentativa perdida de integração...
Alheio ao real cobertor, que o social permeia... Ali, está o cidadão... Fonte de Esparta não o acolhera... Se deformado... Se embriagado... Se pequenino... Se humano... Já gera recuo... já gera ABISMO!!!
E o cidadão... Esperto por definição alheia... Vira posição fetal... Pra aquecer-se em noite crua... Dormir? Não é permitido, apenas à luz do sol...
Alguns segundos, a imagem se lança... Vira fixo, no ente querido inconsciente...
Olhar para o outro lado...Risco... Em duas rodas, lanço o medo de dançar em mãos tão frias... Hipocrisia? É bem verdade... Olhar o outro com medo de morrer, realidade...
Mas, a morte que se lança ao olhar, de quem está parado no sinal... Risco em muros... Marginal?... Vermelhos são os olhos de quem chora a solidão social.


07:16