O TRAVO AMARGO
Parece-me que a tua predileção é sempre o lírico, a visão humana com alguma doçura, que é a conseqüência mental adquirida pelo aprendizado do viver. De novo o tempo passado, a velha estética... Mais de cinqüenta anos diuturnos de ver, ler e criar sobejam alguns entranhados hábitos de olhar o mundo. E isto conforma o gosto estético, mesmo que nem nos apercebamos... De qualquer modo os dois textos de hoje (Gestação da Primavera e Bilhete) têm uma singular singeleza em minha já extensa obra... Claramente perceptível é a ponta de amargura que aparece neles. É o estar no mundo e olhar com olhos de ver. Ser proletário é isto: perceber a não confraternidade até no respirar...
– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre Prosa e Poesia. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 287.
http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/1188597