GESTAÇÃO DA PRIMAVERA

Leva o meu sorriso, nesta manhã em que o sol de setembro gesta dentro de si a primavera, mas ainda não abriu os olhos. O mar de Pasárgada (que é o nome do bairro onde moro), aqui no Passo de Torres, está mudo. Manuel Bandeira, o poeta pernambucano, dorme debaixo do nome de nosso recanto de paz e harmonia... O povo do lugar ainda não acordou. Não há ventos sobre as ondas. As dunas da beira-mar estão imóveis... O carro de som anunciando algum candidato nas eleições de início de outubro machuca os meus ouvidos. Estou cansado de sonhar esperanças... O mar revolto está dentro de mim e revolve o fígado.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre Prosa e Poesia. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 277.

http://recantodasletras.uol.com.br/prosapoetica/1187570