CORAÇÃO ESCANCARADO

Caso me seja possível dizer alguma coisa acerca do que sinto, quero aqui ceder vazão a essa aventura.

É que me vejo mínimo perante a magnitude da invasão que aflora dos infinitos e viola meus instintos. Sei pouco dessa força estranha e soberana que me obriga a ser escravo no auge de meus comandos, a escrever loucos episódios numa história de sanidade pautada somente em si.

Porque nem sempre eu fui real e só depois que te achei, fui recobrado da visão e pude então me perceber o ser que hoje sou.

É fato que sou obra inacabada, que tantas vezes o lirismo não alcança a poesia que tu és. Sei de meus olhares que vacilam por conta de outras paisagens e do paladar aguçado que me induz a ser pouco sábio no abastecimento de minhas bandejas.

Também sei que fui extremo em dado momento em que a sutileza me cairia qual luva, que ficou vazio eventualmente o lugar em que se deveria achar meu físico apoio, que na brandura da palavra eu bem melhor construiria do que na severidade verbal.

Estou ciente, amor meu, que nas desproporções do que nos damos eu te brindo com uma injusta assimetria, onde deveriam equivaler nossos esforços e sobressair meu abraço protetor.

Sei, enfim, que te faltei por tantas vezes.

Mas vou te confessar que no teatro de meus experimentos eu sou um fracassado viajante que só repousa na certeza de teu amor. Os meus impérios e poderes sucumbem sem os ministérios de tuas proximidades, pois esse vazio dilacerante prossegue em doentio alastramento, quando me falta contemplação de um único gesto teu.

Estou trajado de convicções, estou desnudo de conjecturas. Vejo tudo ao meu redor mais colorido quando me olho no teu sorriso. E sou iluminado até nas sombras quando o sol de tua íris aquece o chão de meus passos imperfeitos.

Minha paixão é mar sem maré, mas o que digo se despede. E se nenhuma expressão de meu falar puder subir aos níveis de tua nobreza, sinta o beijo nos teus pés de uma verdade que me persegue: eu te amo muito!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 19/09/2008
Reeditado em 19/09/2008
Código do texto: T1186308
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