Canto do olho.
Te vi pelo canto do olho por uma luneta embaçada. Você também me viu. E me olhava como um desses pombos que se aproximam com tato e recuam com fome. Eu, medrosa. Olhando mais pela luneta, vi tua boca cheia de vento quente e teu sorriso pardo. Cada lanceio de energia de teus músculos era uma vida para mim, terremoto na minha ilha, bala de canhão em meu território: ébrio. Próximo a nós dois e tão longe de tudo há um muro. Um muro feito de medo humano de gente.
Nos arrastamos até aquele sonhado e impossível momento onde nossa bomba nuclear interna explodirá expelindo o teu, o meu, o nosso anseio. Meu sussurro irá subir na sua espinha como uma querela agreste. No ápice de nosso esplendor molhado ecoaremos um grito ereto, um grito fino de rebelião. Eu, você. Você, eu.