Saudades da Fazenda


Ai, como eu queria,
andar cada palmo daquela estrada,
e, ao teu lado, não medir o tempo,
para, assim, trocarmos confidencias,
conhecer o teu presente,
espiar o teu passado
e juntos falarmos de um futuro
incerto demais para novos planos.

Eu queria,
apreender tuas experiências,
de homem vivido, ávido de prazer.
Iria vasculhar teu coração,
acariciar tua emoção ,
de irmão, de amigo,
de amor, de proteção,
de companheiro de jornada,
curta jornada.

Ai, como eu queria,
passear por teus horizontes,
sobrevoar planícies e montes,
a infância pura da fazenda,
com cheiro de gado a ruminar no curral,
com cheiro de relva após a chuva,
som de viola na varanda ou ao pé da mangueira,
com gosto de fruta colhida na hora,
com o sabor do vento no rosto,
com o galope do cavalo arisco,
que campeia o gado ao final da tarde.

Ai, como eu queria,
buscar lá no engenho,
o caldo fresco da cana madura,
mostrar-te-ia a grande fartura
que é ser mineiro,
que é ser matuto,
não de uma ceara vermelha,
mas de um pedaço puro de paraíso ,
que não me deixa querer sair dali.

Fui infiel...vaidosa
N’outros mundos me enveredei,
E que por desventura do progresso,
perdi um pedaço de mim, muito sonhei
Sem perceber deixei-me corromper.
Ai que saudade dos tempos,
bons tempos que não voltam mais.
Doces tempos das Minas Gerais.

Eny Miranda
Enviado por Eny Miranda em 18/09/2008
Reeditado em 13/01/2012
Código do texto: T1185272