DESABAFOS DE UMA MÁQUINA DE ESCREVER

Já faz tempo que ela não me usa... Se bem me recordo, a última vez foi numa tarde chuvosa... Trocou minha fita, removeu bolores, testou alavancas, alguns comandos... Mas fechou-me de novo na minha maleta sem ao menos arriscar uma letra... ah, esqueci de dizer que sou portátil.. bem moderna... pelo menos para a época, porque depois vieram as malditas e empertigadas máquinas elétricas, com ridículas fitinhas corretivas...

Fico aqui nesse canto do quarto que ela chama de escritório... De uns tempos pra cá apareceu com uma engenhoca esquisita...parece com uma televisão, mas é um pouco diferente... e agora minha dona

passa a tarde toda sentada olhando pra sua tela... percebi que, assim como eu, essa máquina tem um teclado... um teclado que nem barulho faz... que graça tem... tem também um negócio que ela usa pra fazer mágica... ela coloca uma folha em branco , aperta o botão e pronto... aparecem as letras, as figuras...

Não sou nostálgica, garanto, mas que saudade tenho do Seu Mário... ah, esse sim cuidava de mim com deferência... e ele era um bocado rápido... batia cartas, se arriscava até nuns versinhos... e quase não errava... Mas ele se foi e me deixou de herança para essa ingrata...

Mas um dia ela vai precisar de mim, eu garanto... Não que eu torça para que aquela engenhoca exploda... não... mas ela ainda vai me usar... e eu estarei aqui, esperando por ela...

Belinda Tiengo
Enviado por Belinda Tiengo em 17/09/2008
Reeditado em 17/09/2008
Código do texto: T1182139
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