A OVELHA E A ABELHA

Fiz que não percebi... Primeiro ouvi um ranger de dobradiça de porta. Pena não a ter trocado por uma catraca... Ah, a velhaca, desprevenida e devidamente flagrada, faria um estrago na sua estratégia e no meu silêncio... Fiquei firme, mas impossível era não sentir aquele perfume "Cappucci"...

Ingênua, ficou descalça... ela não imagina que ouço pisadas descalças com ouvidos de tuberculoso... Aproximou-se felina com cadência e simetria....

Continuei deitada no sofá olhando para o teto, fingindo-me hipnotizada pela vôo de uma abelha que sabe-se lá porque cismou de ser coadjuvante daquela tomada de cena...Um cigarro naquele momento seria perfeito.... os que abandonam o que é seu deveriam ser ignorados com muita fumaça...

Por um momento o silêncio voltou. Pesado. Insuportável. Cruel. Nenhum passo, nenhum vestígio de outra respiração que não fosse a minha... Apenas a abelha continuava ali, atenta... apreensiva...

Sentei-me. Sem fitá-la, pedi que se aproximasse, o que ela fez com a mesma ansiedade em que eu teimava disfarçar. Abraçamo-nos como fazem velhos amigos nas estações de trem ... Assim, eu e ela - minha inspiração- estamos juntas novamente... Prometi a ela - essa ovelha desgarrada - que vou ser mais tolerante... nada de cobranças... vou tentar... A abelha zumbiu... posso estar enganada, mas entendi o sinal como um aplauso...

(esse texto foi inspirado em dois comentários de dois grande amigos - João Milva e minha filha Luciane Goldstein - dois grandes poetas deste Recanto...)

Belinda Tiengo
Enviado por Belinda Tiengo em 11/09/2008
Reeditado em 12/09/2008
Código do texto: T1172538
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