TRIBUNAL DE PEQUENAS CAUSAS

Ela simplesmente foi embora. Acho que esperou que eu dormisse ou que me distraísse com a chuva na janela... e me abandonou, assim, covardemente, pé ante pé, sem uma palavra de despedida, sem deixar ao menos uma pista de seu paradeiro...

Ah, e esqueceu a luz acesa... ironia, já que a luz de que eu mais precisava, ah, essa ela apagou... Agora fico aqui, como um pássaro de asa quebrada em vôos cegos debatendo-me nas portas e vidraças. Por isso, vou fazer o que deve ser feito: vou ao Tribunal de Pequenas Causas, não que essa seja uma causa pequena, mas não me ocorre melhor caminho... Vou contar tudo a um bom defensor ... vou dizer que fui covardemente abandonada por ela, vou entrar em detalhes, vou contar como a tratava bem... Talvez omita algumas partes... como as vezes em que ela insistia em me acompanhar e eu simplesmente, desatenta que sou, não percebia sua presença... Também não vou confessar quantas vezes a perturbei, cobrando dela mais do que ela podia dar-me... Assim, quem sabe, ao final do processo eu seja indenizada, ou melhor que isso, que ela

- minha inspiração - volte para mim ao ler esse desabafo...

Belinda Tiengo
Enviado por Belinda Tiengo em 10/09/2008
Reeditado em 12/09/2008
Código do texto: T1170550
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