Convicções Sanguíneas

Um mês de sol, deitado enquanto as sombras longamente percorrem o intervalo das pálpebras: despertas para o ar em colunas brancas. Pensava no mar flutuante ao fundo do corpo – a baía no clamor dos barcos -, flores agrestes das dunas: reflectia sobre o eco azul de imagens lúcidas no início das horas. De ombros negligentes mergulhei na água crepuscular e senti a existência, talvez a existência límpida de asas, uma serenidade que agita as vértebras, o vento fulmina a respiração na garganta sanguínea. Argumento em torno duma teoria das convicções, estou habituado ao fundo do mar, ao corpo estático sobre a superfície sopesado. Agita-se num concerto o mundo, diluição vulnerável à luz móvel. Ou a existência: como um incêndio líquido em devir, sem identidade. Igual ao horizonte adiante das aves. Um fio débil cobre as pálpebras longas para a claridade reflectir a impaciência. Depois gerir as notícias da alegria, comendo gelados numa esplanada de multidões. Verão de imagens, de alusões diurnas quando os sons da noite lembram a morte adiada, o retrato do corpo que fica na vocação das aves pela vida dentro. Apanho o comboio que circula em linhas aéreas até ao infinito, paralelo ao mar, o bilhete não tem destino, circula por entre colunas entre vidros entre pálpebras entre a alegria de convicções sanguíneas.