Palavras


Carrego no bolso algumas palavras que uso assim, a torto e a direito,só porque gosto delas.

Por exemplo:aléia de olmos, alameda de álamos.Choupo. Folhas de bétula.

As formas. As cores. Os sons. Os cheiros das palavras.Estão todos em meus bolsos.De vez em quando tiro um, a esmo e fico apreciando.Pintassilgo. Rosmaninho.Alecrim  dourado, que nasceu no campo
sem ser semeado.O cheiro da alfazema se espalhando.
Perfume de gardênia.Roupas de cetim. Jóias de marfim.
Cambaxirra. Rouxinol. Tordo e melro. A toutinegra do moínho. Alabastro e alumbramento. Opala e cristal.
Girassol e madressilva.

Rapunzel presa em sua torre. As palavras são minhas tranças, por elas sobem minha emoção;

Não gosto de dicionários. Ele explica as palavras,
Eu não. Palavra é vida.Tem alma e emoção.

As palavras me envolvem e me afogamcomo as ondas do mar e as translúcidas cascatas.

A palavra é uma chave. Ela chega e abre a porta
e sai galopando contra o vento.

Da palavra eu sou ginete. Impetuosa e valente controlo as rédeas, domino.

Palavra é coisa santa, é chuva tamborilando, violino no telhado.

É o sol poente e o nascente. Bálsamo e benzedura, chá de hortelã e erva cidreira. 

Ah! As palavras quando se espalham, estilhaços de cristal, pétalas de rosa carmim.

Casa de chá do luar de agosto. Argêntea lua e os bambuais gemendo. Só de pensar, estremeço.

Sementes de tamarindo. Papoula. Olorosas e cálidas, como depois de um banho quente. Enfeitam meus sonhos no outono tardio.

Às vezes saem como um grito, às vezes sibilam sussurros, às vezes se prendem e morrem.

Encantamento. Pura magia. As palavras vivem em mim. Sinto o roçar de seu carinho.

Palavras que vão  e que vêm. Como as núvens passeadeiras, formando arabescos no céu.

Eu tenho um bolso cheio de palavras e não as deixo fugir. Se vão, logo eu as busco e guardo no meu aconchego.

Palavras. Palavras. Palavras. Eu as uso para meu prazer.