Do que Há - Parte III
Parte III
O cubículo escuro incomoda sua delicadeza. Pouco ar e nenhuma luz. Deixa-se ser uma dobra de si mesmo, sua própria alteridade. É possível ouvir o trânsito na madeira, algumas vozes e uma certa agitação. Não há o que se fazer quando não há o que se fazer. Lá fora a água corre, vadia, rua abaixo, lavando a noite anterior. Há um silêncio que me acompanha, mesmo quanto discurso, mesmo quando escrevo. Silêncio de grito apavorado porque acordou. E fico de orelha, sem saber de mãos, como gato que espreita o olho no espelho. O rosto da mulher que anda aparece desfocado. De orelha. Vejo a mancha movendo-se pelos corredores. Uma mão faz que vai abrir a gaveta. Vai abrir. A voz ecoa um não absoluto. A mão recua. Não há ar suficiente para toda uma vida, ele sabe. Eu também sei.
O azul amofina fechado. Era um presente e ninguém recebeu.