SENHORA DO PRÓPRIO DESTINO
Sentina de vaidades.
Feroz cova das minhas torturas e das minhas dúvidas. Foi rubro o meu amor por ti naquela noite cheia de estrelas, ventos, beijos e um esperado eclipse da lua.
Em ti se acumularam todos os esforços na busca do prazer e do êxtase, tão sabidamente praticados e raramente comungados.
Havia em ti uma saúde vivificante nas vértebras e um nutriente de algas viscosas, que estavam presentes em tua concha alada, um verdadeiro refúgio dos meus prazeres.
Mas no poço das tuas indefinições e da vaidade, frustraram-se todos os anseios e todas as investidas praticadas e santamente desejadas.
No odor inconfundível do éter lipoaspiraram também o teu coração, que, de súbito, partiu-se em conflitos.
Os anelantes halos róseos que vestiam as tuas faces transmudaram-se para um branco pálido, a inesperada imitação da morbidez temporária. O teu sorriso fácil se escondeu e parou ante os meus olhares inexplicavelmente aflitos.
Nesse momento, eu me fiz presente anelando em teu dedo lânguido, o nosso símbolo de amor. Os teus olhos de azul perdido me agradeciam de forma fixa. A ausência total era a expressão quieta em teu rosto gélido.
Os ventos entrecortavam-se uivantes na rede elétrica, e assim se contorciam com a tua dor fria e solitária, em lufadas de solidariedade. Tudo se eclipsou, a lua, a tua dor, as minhas dúvidas, os teus sorrisos, e assim ficamos impregnados com o verde éter que te levou à dormência definitiva.
Lipoaspiraran-te e nada mais.