A ARTE DE QUERER AMAR
Fiquei pensando enquanto o olhava indo embora na frente, com pressa, disse-me que seu ônibus já passaria, eu ficava por ali mesmo e por isto não tinha pressa. Assim é mais fácil, não dizer nada, absolutamente nada. Guardar todo segredo de ti, coisas que são para ti. Guardo-as para mim.
Apesar de que só teriam sentido se fossem para ti. De nada serve guarda-las para mim.
Meneio os ombros, um pouco caso ralo, assim prossigo o caminho, olhando o chão com cuidado, perdendo seu rastro.
Amar é querer ver clareza sobre tudo. O que apalpamos é turvo, confuso, seguimos cegos acreditando que vemos.
Quando tentamos enxergar a luz do dia pasmamos com a capacidade sensível de amar, ou quase como quem percebe que está com uma dor de dente.
Antes eu dizia isto, mas agora sei que é apenas este querer ver a clareza e o sentido da existência. Tomar um partido, dar um rumo mesmo sabendo que não há rumo nenhum, nem tampouco um destino a seguir, uma meta a cumprir e uma definição afinal. Seria certo chamar definição?
Faço perguntas por que busco respostas, mas sei que não as tem; como eu, tu és este todo que caminha as cegas, tateando por paredes desconhecidas, com medo de tropeçar, tropeçando com cansaço.
A fadiga vem todo dia como se já fosse um conforto e um descanso às vezes.
Confessar seria este conforto e esse descanso também.
Por isto é que a fadiga me toma nesta cegueira “saramaga”.
Deixo-te ir, em “paz”, no meu silencio, parado num canto da rua, tateando sobre as minhas paredes duvidosas, esperando um dia... O conforto! O ralo conforto.
O ônibus te engole e seu rastro some ainda deixando a fumaça negra do diesel pelo ar; o cheiro, o calor...
Vou seguindo, com cuidado, como os outros tateando as paredes duvidosas, sem medo dos riscos que não enxergamos, guiando-nos assim cegos.
Rodney Aragão.