Ela

Naquele dia ela decidiu apenas se permitir sentir. Estava cansada de sofrer, e sempre que buscava se compreender acabava por sofrer mais do que deveria. Agora se limitaria a ouvir. Compartilhar experiências. Nem devia ser assim tão difícil. Precisava parar de cutucar as feridas para que cicatrizassem de vez. Nenhum antisséptico psicológico melhor que as feridas alheias.

Já há algum tempo vinha sendo mais compreensiva. Suas respostas não eram mais tão secas, frias ou unilaterais. É bom pensar no outro, sempre bom. Decidiu que pensaria. E, sem querer, meio a esse êxtase de ouvir e entender, viu-se apaixonar. Como há anos não se deixava ver. Temeu em primeira instância. Sempre temia. Deixou a idéia de lado. Como que apelando pela sentença injusta, a sensação insistiu em permanecer ali, e a tola garota ponderou melhor o que significaria gostar de alguém naquele instante. Tinha que se gostar primeiro, não conseguia. Mas resolveu arriscar, sem criar expectativas. Sabia que, se soubesse limitar a paixão até determinado nível, não haveria problemas (o que já era um imenso problema, por que qual coração conhece e respeita limites?). Entregou-se. A fase era de entrega. Ao sentimento, não ao homem por quem o nutria, que este ela mal sabia se a correspondia ou não.

E agora era a hora de ouvir, acatar, ajudar, e sentir.

E foram as 48 horas mais doces daquela fase de sua vida.

Não era ela a escolhida. E simplesmente saiu de mansinho, como se nada tivesse acontecido, comemorando os sorrisos e as palpitações que há tanto não sentia.

Nunca tinha estado tão preparada.

Nem tudo acontece como e quando ela quer… E finalmente tinha entendido isso.

Nica
Enviado por Nica em 02/09/2008
Código do texto: T1158576
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