Imagem do google


Jardim em Preto e Branco



Com as tintas secas a menina pinta os sonhos de sua adolescência. Era o início do século e, na velha casa onde vivia, ela era o sol amanhecendo em meio ao mofo. Ao contrário de certo príncipe, ela gostava de acender o sol e vê-lo nascer um milhão de vezes.
Sonhadora em seu uniforme de estudante, saia plissada azul-marinho, blusa branca e as mais alvas meias, tudo engomado e com cheiro de anil, a menina-moça não havia tido tempo para saudade. O que lhe importava era fazer-se sol para os seres taciturnos da pensão. 
Se o espelho lhe sorria ela sorria de volta. E por que não? A dádiva da vida era a cor, a música, ainda que distante, o perfume e o rebuliço da cidade grande.
Hoje, sentada em seu banco frio, nem as lembranças têm cores. Resta esconder-se do pôr-do-sol, hora fatídica em que o alemão, cujo nome esquecera, tira as algemas e vem tolher-lhe as retinas já sem alegria. Ali espera a volta do seu capitão, que trará as cores ao seu jardim e a despertará com a suavidade de seu nome... Clarissa.
 
 
 
 





1 - Adaptação de memórias de leituras
de romance de Érico Veríssimo.

meriam lazaro
Enviado por meriam lazaro em 01/09/2008
Reeditado em 04/03/2010
Código do texto: T1157010
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.