{Vem essa coisa... }
Vem essa coisa mansamente aflitiva que se avoluma, essa coisa angustiada, marcada a fogo e ferro... estou com isso de medo, medo de não ter medo, medo do medo, medo do depois, que não é, medo de todos os medos, porque estou com todos eles...
Dizem que é bom dormir que passa, mas não adianta que é feito fome, e que também é feito sono, se repete. Repete.
O que se faz, hen? Ir à igreja, benzedeira, ioga, capoeira, tai chi chuan, chamar pai de santo, mãe das quantas, "ô Preto Velho o que foi que deu"? Tá caquético demais. Ê Atotô Obaluaiê, hoje é segunda... e minha alma aflita. Ó Cristo Redentor, São Sebastião, Padinho Cícero, N. S. da Penha, do Carmo, - que carga! - da Conceição, do diabo, do caralho a quatro! Ô Deus!
O que é que se faz, hen? quando se está com medo e já nem se tem mais idade para isso? E tem idade para o medo, tem? Um gole, um trago, um puta pico na peito, na veia... qualquer coisa bem forte logo de manhazinha bem cedo e à noitinha dentro dum escuro-se-fechando. A vida me olhando com olhos de crepúsculo. A morte me olhando de dia, sonsa. E eu vejo, não tem saída. É inútil perguntar, e inútil responder.
Mas o que é que se faz quando se sente medo depois que já cresceu. Cresceu?
Reza Ave Maria, Pai Nosso, Sermão? Não, não... Nada de coisa assim tão estéril, prefiro ficar com minha ladainha. Eu te repito, eu me repito, repito. Eu te reproduzo, eu me reproduzo, reproduzo.
O depois de, respira? Vem chegando os últimos parágrafos, eu sei vou me chegando ao fim.
O que se faz, hen? Se não tem consolo nem remédio em gota pra esse gosto estranho de entranha na boca, esse soco na boca do estômago, bem no miolo do abdomem, na nossa cabeça mole de Homem.
O que se faz, hen? Como é que se tira um soco vibrando nas tripas, esse hálito de ades seco na garganta, esse travo no peito?
Esse medo que eu tinha daquela mula sem cabeça que me olhava cabeça sem corpo. Daquela cabeça de minotauro e corpo de homem que me olhava a mim cabeça de homem corpo de minotauro.
Ir a procissão? Já fui muito puta da vida, aos tapas e berros, seguir a procissão com o sol a pino bicando a moringa, cumprindo promessa dos outros... pense na bagaceira! Eu pensava: "o diabo que me carregue!" Mas nem o diabo carrega não! Tive, tenho que seguir o meu passo de caminhar o meu vertiginoso poço... tropeço, estabaco muito, é verdade, faço meu roteiro de insegurança e solidão.
De minha parte, labirinto a travessia, toco meu barco a vela, sem nome nem sobrenome, eu e mais nada, meu nada.