Eu morro!

Se tem uma coisa que você deve saber sobre mim é que eu vivo morrendo. É verdade, eu juro! Não conheço mais nenhuma pessoa que morra com tanta frequência quanto eu, o que já transforma o fato em uma observação extremamente plausível.

Eu, por exemplo, já morri de gripe - umas trinta e cinco vezes. Já morri atropelado pelomenos umas duas. Já morri de medo, aliás, essa causa mortiis deve ser a mais comum nos meus diversos obituários. Já morri também de dor de estômago: toda vez que fico ligeiramente estressado isso acontece, não tem como evitar, eu morro!

A morte, pra mim, é algo normal. Eu vivo morrendo de saudade dos meus amigos, dos meus familiares, e das pessoas que algumas vezes me fazem morrer de felicidade – embora vezes muito mais raras do que as que eu morro de tristeza. Eu vivo morrendo de rir com qualquer coisa idiota suspeitamente engraçada que surja no meu dia, morrendo de dor de cabeça com os problemas que eu procuro pra mim mesmo – só pra dizer que eu sou normal.

Morro sempre de preguiça, morro de tédio, morro de tanto bocejar. Vivo morrendo de dores musculares quando tento fazer qualquer tipo de esporte e morro de vontade de fazer uma série de coisas que eu ainda não posso. Morro de nojo de insetos e vivo morrendo de nojo de algumas comidas, embora as pessoas digam que essa frescura toda um dia vai me matar. Não consigo evitar, morro mas não como essas coisas bizarras.

Aliás, bizarro é o fato de eu morrer de ódio por algumas pessoas e ao mesmo tempo, morrer de amores por outras. Vivo morrendo de amor, agora mesmo, morri! Eu morro porque amo, e morro porque odeio, e morro de tudo quanto é jeito. Meus sentimentos vivem me matando.

Só não entendo porque as pessoas tem tanto medo de morrer, sou aqui a prova viva de que morrer, boa parte do tempo, pode ser bom. Dificil mesmo é viver de outro jeito.