paiva telles
Ele nem chegou em casa. Nem chegou a hora. Nem chora por ninguém. Sequer saiu. Sequer sentiu algum frio. Dorme despido sobre o carpete azul da sala.
Sorriu, talvez um olhar angustiado. Apavorado depois da última noite. Cremou algumas vozes gravadas. Vezes vinil, vezes cd’s, dvd’s e fitas cassetes. Vezes fondue e beijo com gosto de acordar. Sentiu um orgasmo incomum e inaugural depois da meia noite e meia. Feita de ambientes, palavras e memória. Escória alguma lembrou de algum momento.
Depois saiu de si. Depois nem saiu de casa. Nem chora por si mesmo. Nem mesmo recorda de ontem à noite. E o que sobra? E o que demora acontecer pode parecer angústia esperar e inquietar-se. Mas pelo menos contou até dez antes de pular de algum ponto da cidade: prédios, pontes e viadutos. Já se sente adulto, mesmo não querendo outra coisa senão não existir mais.
Você o conhece? Costuma vê-lo passar por sua rua? Não importa. Não responda. Parece querer que você encontre qualquer alternativa de salvação pra algo que você tem pouco conhecimento de causa. Se prefere escolher, escolha um pouco de medo de chegar aonde não se conhece se vai haver um outro momento depois deste.
Depois ele volta e aposta algum dinheiro. Algum respeito. Um jeito de louco e pouco juízo: risca as paredes com lápis de cera. E ainda nem terminou o que não sabe que começou.
Quem vai julgar, ser o juiz dos outros?
É só bobagem.