MADRUGADAS URBANAS
É madrugada...
A neblina forma tapetes sobre as estradas...
os faróis iluminam os poucos metros entre os olhos perplexos do motorista, já cansado da longa jornada, e o asfalto, na expectativa
da chegada.
O silêncio tenta dominar a noite... mas a noite é rebelde!
Ouvem-se músicas, murmúrios, risadas... ouvem-se gritos, estalos, estrondos – tiros!
Nas ruelas da periferia, nos calçadões do centro, nas calçadas onde
a fama acontece... as luzes brilham, afoitas... na intenção, do néon, de competir em cor e brilho... com as estrelas.
Ônibus sombrios, lentos, quase vazios... táxis vagueiam à espreita, homens amassam o pão, encaixotam alimentos, policiais praguejam
ao depararem-se com o absurdo dos acontecimentos, paramédicos correm na urgência do valor à vida!
Os hospitais fervem... bêbados lamentam, entorpecidos pela solidão; feridos deliram febris; mulheres choram seus homens mortos... mulheres parem seus filhos – crianças preferem as madrugadas para virem à luz... e encontram refletores, nas salas de parto, que lhes ofuscam o primeiro olhar!
Há vida na madrugada!
A vida é passional! Percorre as ruas, sobe escadas, pula muros, arromba portas. Rouba, estupra, trai, mata... morre... segue!
A vida é emocional! Ama, beija, acaricia, geme de prazer...
chora, recorda... persegue o sonho!
As horas... esvaem-se na madrugada!
“Aos olhos simples são horas mortas.
Na intuição do poeta,
sonhos libertos... rompem comportas!”
A madrugada é lúdica... é poética, inspiradora...
“Chegas assim, suavemente!
Como o toque de um anjo,
percebo-te ao meu lado... presente!”
“Com ternura me acaricias docemente!
Compartilhas comigo a rota da madrugada,
e te recebo... amorosamente!”
A madrugada é lúcida? Racional... coerente?
“São horas lentas de noites vazias!
Tua imagem tênue se esvai,
na ciranda das horas fugidias!”
“Partes assim tal qual chegastes!
Num sonho bom, mansamente,
a minha alma cativastes!”
A madrugada é realidade... constatação, perplexidade.
“Mas é chegada a hora de partir!
Olho o horizonte, diviso o nada,
é madrugada... preciso ir!”
Para contar tuas proezas, MADRUGADA, teço um mix de prosa e poesia e me permito dormir... afinal!