Fragmentos e Cismares 23



                       [CIRCO DA VIDA INTEIRA]


Circos. Famílias que se formam. Trupes. Consanguíneas ou não.
Num desses circos estamos e estaremos ao longo da vida, cada qual com um papel específico, ou mudando de tarefas, "quebrando o galho" em outras, como se fiz. O faz-tudo dentro e fora do picadeiro.

Em qualquer circo, há os ilusionistas e os iludentes.
Nas cordas bambas e suspensas, todos...Toda sorte de acrobacias perigosas, malabarismos e contorcionismos os envolvem.
A platéia, que se alterna conforme a estação e o interesse, torce por algum passo em falso do acrobata, um erro no trampolim, uma mágica que emperre, um domador que seja arranhado por um leão, um prato que escape aocontrole domalabarista, um propósito que não dê certo. 
Há hipocrisia diante da falha do outro...
Há inveja por assistir à superação de limites...
Se perguntada, a platéia nega, claro!
Apreensão.
Segue-se um "Oh!" de admiração. 
Os aplausos e a inveja.
O elenco também nega seu lado perverso.
Bem treinados na arte de representar, tentam vender suas personas. 
No espetáculo de hoje são circenses.
No de amanhã, espectadores.

Uma lona negra e furada de balas cobre público e artistas.
O difícil é se conseguir sair de sob ela.

Do lado de fora, ao ar livre,  pode-se respirar, ainda, um pouco no azul, sob um céu de nuvens limpas. 
Intervalo. 
Aroma de madresssilvas, ao lado de gente digna. Momentos de leveza, desarme, flanância, fino convívio. Fino mesmo, tênue. 
Pipocas caramelizadas, salgadas, amendoins em cones de papel, churros, cachorros-quentes, garapa, namoricos, algazarra de crianças pra todo canto, empurrando-se, caindo, derrubando...
Até elas! 

O circo está sempre  em função.
Itinerante.  
Como a vida e o tempo.

"Hoje tem alegria?" 
"Tem sim senhor!" ....

                                          Hoje tem é marmelada!
                                          E palhaço, quem é?




desenho: Clarice  Martins